quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Calor

Eu relutava. Ah, como relutava! E ainda reluto. Numa noite super sedutora, olhava fixo para a parede, tentando fazer meus desejos desaparecerem. Que o branco da tinta - meu olhar era quente, duro sobre esse branco - absorvesse todo o calor que não estava apenas no olhar, e o levasse embora. Pra longe, bem longe de mim. E, se possível, pra perto de você...

Ah, como eu queria que você sentisse esse calor que eu lhe direcionava! E ainda direciono. Como eu queria, nossa, e como queria, que você quisesse sentir esse calor! Mas esse meu calor. Somente o meu... Ta, não necessariamente somente, mas que, ao menos, também o meu.

A parede já se cansava de mim, e o meu olhar também não mais a aguentava. Levantei. A televisão desligada, assim como o rádio. Minha companhia era o silêncio. E ainda é. Meus passos não possuíam direção, sabe? Eram inquietos, impacientes. Sedentos de algo que nunca tiveram, nem teriam. Acendi o cigarro, quase com o calor dos meus dedos, igualmente indóceis pelo seu toque. Pus o cigarro na boca e o traguei. Senti aquele calor estranho misturando-se àquele que preenchia o meu corpo.

- Que merda. Mas que merda...

E apaguei o cigarro, ao passo que ligava o rádio. A voz impotente da Ana Carolina em meus ouvidos começou a levar-me para longe...

Me escondi / Pra não ter que ver você dizer / Coisas que não merecia ouvir.
Escolhi / O pior lugar pra me esconder / Me tranquei por dentro de você / E não sei mais sair

Não. Não sei mais sair de você. Da sua lembrança, do meu desejo, do que você me causa. Desse calor que você me deu e não pegou de volta. Isso é uma merda, sabia? E a culpa é toda sua... Toda sua.

Pela rua penso em ti / Volto em casa, penso em ti /No trabalho sem querer / Quando vejo, tô pensando em você.