quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Alegria/Esperança

É tão triste e lindo perceber que hoje é o último dia do ano. Trazendo essa reflexão para o universo dessa compacta - não pequena, compacta! - página da internet, é tão triste e lindo - com uma pitada de bobo orgulho - perceber que o ano de 2009, em algumas horas se esvai, e que consegui postar minhas ideias, reflexões, alegrias e sofrimentos em todos os meses desse significativo ano! Não sei se 2009 foi o melhor dos anos, mas, independentemente disso, foi um ano inesquecível.

Ok, eu sei que estou usando o 'foi' antes da hora, mas... Acho que é essa nostalgia antecipada que o fim nos causa.

Muita alegria por 2009, e muita esperança para 2010!
Muitos insights e muitas viagens!

Final do Começo

Lembro-me do primeiro dia em que aqui escrevi. Numa lan-house em Arraial do Cabo, na tentativa de fugir da nuvem negra que se instalara sobre a minha família naquelas férias. Metafórica e literalmente. Sentei, escrevi, relatei, sofri calado. Foram tantos os momentos em que esse blog, na maioria das vezes, entregue às moscas, serviu-me como ouvinte, como ombro amigo, como alento.

Recordo-me também da conversa ao MSN que tinha enquanto criava o Insight Viajante. Lembro o que sentia durante essa conversa, lembro as decisões infantis que tomava - e, obviamente, não cumpri - em meio a minha revolta. Lembro-me nitidamente da dor que senti durante aquela viagem e da forma como pude exprimir minha raiva, minha insatisfação, meu lamento para quem quisesse ouvir, por meio dessa ferramenta.

Meses passaram e esse blog assumiu uma nova função: correio amoroso. Os textos apaixonados que postava aqui para tentar fazer uma certa menina perceber o quanto eu a amava. Novamente, as palavras digitadas aqui continham, para mim, um significado especial: uma esperança. De concretizar um amor, ainda no campo das ideias; de alcançar a reciprocidade no meu ingênuo sentimento.

Não apenas nos momentos de turbulência este reduto me era útil. Durante as calmarias amorosa-sentimentais, ele também presenciava - se não estimulava! - o meu tão estimado processo criativo. Este maldito cursor a piscar instigava o meu orgulho e forçava-me a criar e criar e criar, incessantemente, não permitindo ao meu dom seu tão sonhado descanso.

Quem me conhece, sabe o costumeiro engarrafamento mental que ocorre dentro da minha cabeça. Este blog foi uma das principais válvulas de escape que encontrei para, como adoro dizer, desanuviar a mente. Incontáveis reflexões, questionamentos, perguntas e dúvidas foram por mim tratadas aqui. 'Quanto mais escrevo sobre algo, melhor me sinto quanto a isso'. Moleque, escutei a Amy Lee dizer isso para responder por que suas letras são tão melancólicas e tristes. Acho que, ao longo desse ano, finalmente consegui entendê-la.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

No Desconhecido - 01

"Que dor..."
Ela pensava enquanto sua mão acariciava a parte de trás de sua cabeça. Ela não se lembrava daquele tapete sobre o qual se postava. Não se lembrava daquele vestido. Não se lembrava de qualquer coisa ao seu redor.
Estranhou. Aos poucos, tomando consciência de si e da dor que crescia numa parte inferior de sua cabeça, sentava-se e tentava compreender o que estava acontecendo. Certamente, nunca havia visto aquele local. Aquelas cortinas pesadas, aqueles móveis negros e lustrosos, aquele belo quarto em que se encontrava.
Já de pé, observou tudo com mais clareza. O seu anfitrião desconhecido não poderia ser qualquer um... Nem todos ostentariam tanto luxo para uma desconhecida - isso se, assim ainda o fosse. Uma sensação de pânico correu-lhe a espinha; e se não fosse uma desconhecida? Afinal, o que faria uma desconhecida vestindo um lindo traje vitoriano num dos mais belos aposentos de uma residência qualquer? Pensar em tais questões deixou Mina ainda mais assombrada.
Mirou a porta-janela. Precisava de um pouco de ar, então dirigiu-se a ela, mas parou no meio do caminho. Seu reflexo na negritude do vidro parecia falar com ela. Alertá-la sobre um perigo que ignorado estava e assim continuou. Num passo, seu reflexo contraiu-se com o abrir automático de portas, e Mina visualizou uma das mais deslumbrantes paisagens das quais se lembraria por muito tempo. Estava no alto de uma colina. Numa construção que remetia aos antigos castelos medievais. Uma linda mesa, perfeitamente arrumada, com toalha preta e pétalas de rosa vermelha espalhadas, postava-se elegantemente num dos cantos da varanda. Ao seu lado, um violino, esperando para ter arrancado de si as mais belas notas musicais.
O receio de Mina apenas cresceu. Não sabia onde estava, com quem estava, ou por que estava. Porém sabia que estava, sinistramente, gostando daquilo. E que todo aquele medo transformava-se em ansiedade a cada brisa que batia em seus cabelos.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Refratar de Raios

Ele pos os óculos, e seguiu sua viagem.
As ruas não mais cheias que o normal. As pessoas pareciam não ter rosto, na pressa de seus afazeres diários. Olhares não existiam, logo não se cruzavam. A paisagem enegrecida pelos óculos simplesmente continuava a acompanhar o passo do rapaz, que observava os vultos ao seu redor tomarem formas diversas.
O céu estava cinza, o sol brilhava opaco e perfeitamente delineado. Nuvens havia no céu, para que o tempo não conferisso ao rapaz a tão sonhada sensação de plenitude. Os óculos filtravam tudo. Os sorrisos, as expressões, as energias, as vibrações. Eram a barreira entre o jovem e o mundo; barreira essa rão precisa e fundamental.
Parou diante do objeto de seu interesse. Olhou-o num refratar de raios e, pediu-lhe o desejado. Num lento movimento, quase impacientemente rejeitado, a missão fora cumprida; Ricardo folheou a revista rapidamente, à procura da matéria de seu interesse. Seus olhos escondidos correram pela página aberta com enorme destreza, localizando nomes, confirmações e preocupações precisas. O rapaz levantou-se; mentalmente lembrou-se das informações colhidas, e, displicentemente, atirou a revista ao chão.
Sacou o celular, pos ao ouvido e deu a ordem, ali, no meio da rua e da sua consciência embarreirada:
- Mate-os.

Catalepsia - 04

Deus, me deu um calor agora! Epa... Será que eu posso falar 'Deus' aqui? Quer dizer, qualquer coisa, eu digo que não sabia que era proibido. Isso, se for, né? Sei lá, se eu estiver no inferno, deve ser. Mas eu não devo estar no inferno... Apesar desse súbito calor, cadê o fogo e tal? Eu hein... Ou então, eu to no purgatório. Sempre foi meio abstrato pra mim esse lance de purgatório. Se bem que continua sendo, né, eu sei lá onde estou, não faz muita diferença...

Sério, tpa muito quente mesmo! Porra, eu já to morto, ainda tenho que ficar sentindo calor?! Assim não vale... Nossa... Eu disse 'sentir'. Então, eu to sentindo? Não... Eu não to sentindo. O toque não toca, o cheira não cheira, é só esse calor estranho, que está crescendo... Mas que vem de fora de mim. Eu sinto que, dentro, eu to gelado, eu to frio, rígido. Ta... Tudo bem que não faz tanta diferença da minha nã0-vida. Eu sempre fui assim, meio ácido. E sempre gostei...

Sim, sim, eu era bem odiado por essa acidez, mas faz parte, né? Eu nunca fiz questão de ser legal. Aliás, legal mesmo é ser chato, escroto. É o máximo! Eu sempre adorei ser escroto! Como eu nunca liguei muito pras pessoas, e elas não podiam me atingir, usei e abusei da escrotidão! Era demais... Aí me falaram que eu tinha muito ódio no meu coração. Eu acho que, se tivesse um, teria muito ódio nele.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

E o meu amor?

E o meu amor?
O que diria se eu partisse?
O que diria se estes versos não ouvisse?
E o meu amor?
O que diria da ausência?
O que diria esquecida na dolência?
E o meu amor?
O que diria ao chorar?
O que diria enquanto o pranto derramar?

E a sua voz?
Sofreria ao embargar?
Lhe pesaria a eloquência lhe faltar?
E o seu corpo?
Fecharia em reclusão?
Esconderia o doce e frágil coração?
E os seus olhos?
Brilhariam na partida?
Exporiam a sua alma tão sofrida?

E o meu amor?
O que diria se eu partisse?

Um pisão no pé?

Absorto estava e assim continuei quando ela entrou. Algo do lado de fora da janela prendia a minha atenção. A cabeça recostada, o fone no ouvido, os óculos escuros protegiam meus claros olhos da exposição de meus pensamentos, que, desprendidos, voavam pelo ar em busca de esclarecimentos vindouros.

Ela parou logo ao meu lado. Percebi imediatamente a pele claro, o cabelo preso num coque e o jaleco do CEFET. 'Inteligente...', pensei. A hibernação da mulher que ocupava o assento ao meu lado terminou, e ela levantou-se rumo à porta. A menina do CEFET, até então em pé diante de mim, pediu-me licença para sentar; eu me afastei, aproximando-me da janela e sem querer pisei-lhe o pé.

- Desculpa.
- Tudo bem.

E a isso resumiu-se o diálogo. Obviamente, né? O que mais haveria a ser falado? Nada. Mas, aparentemente, eu não me satisfazia com nada. Eu queria mais. Eu queria conversar mais. Que sensação estranha essa, um tanto quanto inédita, até. Nunca fui tão incitado por mim mesmo a puxar conversa com uma desconhecida.

Foi estranho e ao mesmo tempo me levou a refletir sobre isso. O mundo seria tão melhor se as pessoas simplesmente conversassem umas com as outras, não? Falta palavra, diálogo, calor humano no mundo de hoje. As pessoas deviam conversar mais, se conhecer mais. Somos todos habitantes do mesmo mundo, numa mesma luta por felicidade e autorrealização, de que mais fatores comuns precisamos? Que outros pretextos são necessários? Um pisão no pé? Apenas?


Labirinto

O que se faz quando a sua própria mente não é mais um lugar seguro? Quando ela se enche e se arma contra você mesmo, trazendo-lhe perguntas, questões e dúvidas aparentemente intermináveis? Pois a minha está assim. Ela prende-me nesse labirinto sinuoso cheio de nomes, escolhas e desejos. Por ele eu vago completamente sem rumo. Não sei exatamente se quero encontrar uma saída, eu gosto dali; mas, certamente, quero encontrar uma direção. Um caminho que me aponte a algo certo, concreto, palpável. Eu acho inclusive que sei o caminho que quero trilhar. Infelizmente, segui-lo não depende apenas de mim, então eu preciso encontrá-lo, para que possa, enfim, tentar trilhá-lo. São meios de que necessito, e cada vez mais são mais necessários.

É chato quando nos sentimos dependentes de algo que nem possuímos e não temos certeza se possuiremos.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Distorção

E se todas as suas certezas sumissem?
Hã?
Tudo em que você sempre construiu a sua vida desaparecesse?
O mundo que conhece,
as coisas como são,
as formas,
as cores,
os sons?
E se a sua realidade se distorcesse aleatoriamente, ao seu bel-prazer?
Aí você seria feliz?

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Um pequeno pedaço

O mouse vagueia. O cursor voa pela imensidão azul que comporta as minhas lamentações, angústias, alegrias e criações. Escolhe um, outro; entra, sai. Passeia pelo passado.
As palavras. Algumas já desbotaram, outras continuam ali a significar, esperando para terem a sua missão cumprida. Umas tão ternas, tão simbólicas, tão docemente emanadas, dançam diante dos meus olhos, escondidos por detrás de lentes. Lado a lado constituem um sentido muitas vezes particular, reservado somente a mim. Ou pior, somente àquele Matheus do passado, que o escreveu, deu-lhe vida. Esses sentidos percorrem sentidos distintos. Não necessariamente farão, mas causarão algum sentido. Ainda que não o desejado, ou o esperado, mas um especial, secreto, preciso.
Entranhado nesse mesmo fundo azul está o meu coração que se perdeu. Não todo de uma vez; se perdeu aos poucos, em pequenos pedaços que foram abandonados por onde passei, para que eu não perdesse o meu caminho de volta a mim mesmo. Quando meu coração se esgotar, e não mais restarem pedaços a serem jogados, saberei que é hora de retornar. Até lá, deixem-me vagar por aqui, por todos esses infinitos lados.

Multilateralismo

Você! É, você! Sabe o que é... Eu não sei bem o que sinto por você... Parece mais uma obsessão, eu não sei. Só sei que gosto - e muito! - da sua companhia... É, das conversas, dos risos, dos emoticons, de tudo. E eu sei que tem um desejo - e que desejo... - muito, muito forte. Isso. Inclusive, tenho até uns surtos loucos e insanos de bobo ciúme. É, realmente, não tem porque. Mas eu tenho, ué. Será isso um sintoma?

E você...! Você é linda... É uma graça. E já é de longa data... Talvez seja isso, entende? Essa longa data? Eu não sei o que é real, o que é sombra, o que é resquício. Eu deixo isso tudo se misturar e fico louco, perdido dentro de tantas e tantas coisas. Eu adoro o seu gosto pra filmes, peças, músicas... Eu adoro essa sua voz tão... Tão... Sei lá, jazz! Eu te adoro, sabia? Mas não sei se é o suficiente... Pelo menos, não sei mais.

Ah, você? Hábil no falar. Sim, com absoluta certeza. Eu também não sei o que sinto com você. Só sei que não é nada demais, fato. Mas adoro a sua companhia, também. Você me ajudou a perceber que ninguém - quase - é insubstituível. Olha que honra? E tem alguma coisinha crescendo, é claro que tem, mas pode se transformar no que eu quiser - e relaxa, eu sei dosar muito bem...

Pois é, ninguém

Parece que eu aprendi.
Pelo menos até a próxima crise ou reflexão emergecial, aparentemente, eu aprendi: não devo tentar me entender. Se a cada música, a cada esquina virada, a cada lua no céu, a sensação muda, eu não devo me procurar um padrão. Eu não sou padronizado, apesar de às vezes o querer ser. Eu sou esse barco solto, a marear pelos sete, oito, vinte mares da minha própria vertigem. E quem sabe, ao navegar, o vento que toca meu rosto carinhosamente me traz alguma resposta? Quem sabe se o desconhecido conhece-me como nem eu mesmo o faço? Quem sabe, ao desbravar as ruelas dos meus pensamentos não descubro-me novo, de um jeito assim, como nunca fui?
Pois é, ninguém. Ninguém sabe. E é essa a graça. Então, vem descobrir comigo. Vem?

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Música e Texto - Sleeping In

Sleeping In - The Postal Service

É como uma vertigem. Um vórtice que parte da minha conturbada cabeça e a reabsorve mais estranhamente ainda... Como um sonho interminado e interminável. Absorto em meus próprios pensamentos, incertezas e sentimentos desconhecidos, procuro analisar tudo à medida que a singular batida funde-se à suave voz, levando-me a transcender por além do tempo presente e espaço real.
Flutuei. Por cima do meu próprio corpo, sentindo uma liberdade sem igual, nunca antes experimentada, sequer imaginada. Flutuei tentando alcançar meus sonhos que, de tão altos, pareciam inatingíveis; procurando você encontrei-o também flutuando acerca dos âmbitos de seus tantos e belos sonhos.
Ao observá-lo flutuar, acordei. Minha cabeça repousava sobre o travesseiro. Virei-me de lado, com o coração apertado e os olhos perdidos na madeira clara. Odeio sonhos que parecem reais, mas não passam de sonhos.
Volto-me mais uma vez para a música após breve devaneio, e vejo: é isso que a música e você me causam: o desprendimento.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Música e Texto - The Guilty Ones


Foi tão de repente... Foi.. Assim. Do nada. Eu não sei como começou, eu não sei como tudo se tornou tão mágico, eu... Eu não sei. Simplesmente aconteceu, sabe? Aconteceu. Eu estava ali, você também. Fomo levados por nós mesmos, nossos medos, nossas falsas proteções, e tudo o que havia de mais secreto no interior de nossos escusos e desconhecidos desejos. Não... Não há culpa. Nós não somos os culpados.. Não. Para se sentir culpa, deve-se arrepender, e eu não me arrependo, nem arrependerei. O meu sentimento, o meu amor não se arrependerá. O meu sussurro ao pé do seu ouvido, a noite fria a banhar-me a pele nua, nada, nada disso se arrependerá. A noite a nos testemunhar, o céu a nos esconder, a lua a nos iluminar. Nada se arrependerá, a não ser os nossos corpos.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Eu do Outro Lado

Você que está aí, sou eu? Sim, é. Ou sou. Você que está aí pode me enxergar como eu te enxergo? Por favor, diga que sim... Enxergue-me, por favor... Eu não mais consigo. Eu simplesmente não consigo me enxergar com clareza... Já está tudo muito turvo para mim, e a minha sensibilidade não é tamanha para filtrar todas as sujeiras da minha alma. Por favor, eu do outro lado, enxergue-me a mim mesmo, faça-o por mim, ou por você, se preferir, mas faça-o. Por favor... Eu preciso disso. Eu preciso muito desse reflexo, como ele é. Eu preciso ver, sair da cegueira que liberta, que ilude, que inocenta. Eu preciso ver como se é de verdade... Por favor, eu. Por favor...


Falta

Algo falta.
Eu não sei bem o que.
Talvez eu nunca soube, ou nunca saberei.
Mas sei, sinto que falta.
Eu não sinto, eu não-sinto.
Não-sinto a vida, apenas sinto-a escorrendo pelos buracos do que me recobre.

Algo falt...
Já as letras me escapam.
Já o fôlego se esvai.
Já a cor se desbota.
Já tudo se torna nada e nada no mar vazio da eternidade.

Algo fal...
Cai num escuro imenso...
Numa imensidão escusa,
Reclusa, recolhida em sua própria vastidão.

Algo fa...
Faz-se rápido.
Falha.

Algo f...
Fugaz.

Algo...
(foi)

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

A Estrada


Sigo por aquela que a tudo me leva.
Vagueio sem rumo, apenas por vagar.
Esperando o momento em que o horizonte me tragar,
E voltar, em sonho, à sina que me espera.

Caminho olhando em direção a grande luz.
Dela, me aproximo ansiosamente.
Aguardo o momento de penetração da mente
Por ela que, sempre, a todo instante, me seduz.

Passeio por ela, mil histórias compartilha.
Contos de amores, de dores, de pranto, de pesar.
A ela, costumam os sofredores escapar
Do mal que os fere, os agride, os humilha.

Reparo sua trilha, seu rastro permanente...
Dezenas, centenas, milhares transitores.
Inúmeros, diversos, incontáveis genitores
De histórias, das memórias do seu asfalto decadente.

És relicário, mausoléu, guardiã de histórias nossas.
Conforta-nos, enleia-nos, distrai-nos com tua beleza.
Mas o que tem de infinita, também tem de esperteza,
E guarda em seu asfalto, espaço a novas bossas.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Música e Texto - The Nicest Thing


The Nicest Thing - Kate Nash
Eu ainda me lembro. Da música ao vento frio. Dos carinhos não lembrados ou percebidos. Do desejo. Do meu desejo de ser seu. Da minha necessidade de ser seu! Eu ainda queria que você lembrasse... Tudo. Tudo o que eu fiz, todo o amor que eu dei. As cartas, as lágrimas, a sinceridade, e, mais que tudo, a flor lilás que eu lhe dei e você pôs sobre o seu travesseiro. Eu queria ser a última coisa a vagar pela sua mente quando você se põe a dormir. Eu gostaria de voltar. Voltar no tempo e reescrever a nossa história, eliminando o ponto final. Esse ponto que abruptamente interrompeu o meu querer, a minha força de vontade, a minha insistência, mas não o meu amor... Ou então, gostaria que os nossos - então apaixonados - corações contribuíssem cada qual com mais um ponto, de forma a tornar o ponto final reticências e, aí sim, viver um amor pleno, com início e meio, mas sem fim...

Música e Texto - Photograph


Photograph - Nickelback
Essa foto... As lembranças, as confissões... O silêncio, acima de tudo, o silêncio. Assassino, ou até mesmo, suicida. Procuro, em meio às lembranças, um rastro, uma pista, um adeus um porquê. Eu me vejo a procurar pela cidade. Cada local, um flash, uma lágrima. Cada lágrima, uma foto. O tempo já foi. O espaço perdeu-se. Tudo já fora, não é mais. A corrente ainda permanece, resistente, quase invisível, até sumir.

Música e Texto - Explicações

Assim como a sessão 'Minhas Teorias', agora também há a sessão 'Música e Texto'. Diferentemente da outra sessão, esta possui uma peculiaridade: eu as escrevo por inspiração de alguma música que ouço apenas enquanto escrevo. Eu começo a escutar a música e escrevo o que me vier à cabeça à partir dela. Eu to adorando essa experiência, gostando tanto, que, às vezes, escutar a música uma vez só não dá pra concluir o txto que está se desenvolvendo tão bem... Dá uma pena... Enfim, aproveitem.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

No Covil das Cobras

Hoje à tarde tive que ir ao Barra Shopping para ver a roupa do meu níver partes 1 e 2. E eu percebi simplesmente que eu odeio shopping e tudo o que ele representa! Sério! Tudo bem, é óbvio que eu vou continuar indo ao shopping por questões de necessidade, é a vida, mas, meu Deus, que lugar horrível! Vamos a minha saga...
Chego e traço a minha estratégia: "começo por esse lado, perto da Fnac, da U2, vou pelo piso de cima, se eu vir alguma coisa legal, entro na loja, vejo o preço de algumas coisas, se gostar anoto o nome da loja e do que gostei". A princípio, estava tudo ótimo. Entrei na U2, dei uma olhada numas coisas legais e tal, e saí, segui meu rumo à próxima parada que foi a Borelli, onde vi outras coisas interessantes. Um parêntesis: o carinha da U2 - e eu adorei isso! - simplesmente ficou falando no telefone até EU, sim, EEEEUUU ir procurá-lo! Por que os outros lojistas não aprendem com ele o que é deixar um cliente à vontade?! Eu odeio me sentir um pedaço de carne quando entro na TACO e vem 526 atendentes em cima de mim, quase gritando "carne fresca! comissão!". Aliás, pra que taaanto empregado assim na TACO? Meu Deus do céu, é uma seita aquilo lá? Enfim, segui meu caminho, indo parar na loja da C&A. Sim, eu não tenho problema nenhum com a C&A. Apesar das pessoas falarem isso e aquilo da C&A, da Renner, e essas lojas assim, tipo, qual o problema?! Meu Deus, também tem roupas bonitas lá. Boas calças, camisas, bermudas, e aí? Se eu não comprar lá eu vou comprar roupa onde? Nessas cinquenta mil lojas onde você compra uma camisa branca, lisa, sem estampa, nem porra nenhuma por 125,00?

Gente, eu não entendo isso! Tipo, ok, "é a marca, você paga pela marca". Quer dizer que eu vou pagar 100,00 a mais por um produto igual pra OSTENTAR - odeio essa palavra - uma marca? Gente, sou eu o errado? O idiota, alguém, por favor, me responde, só eu discordo dessa ilógica?!
E foi aí que eu percebi uma coisa: meu Deus, eu estava ali. No meio daquilo tudo... De bolsas, de compras, da venda de ideias que eu jamais concordei, de uma massificação de falsos valores e costumes de ostentação, estereotipação, marcados por símbolos. E, de repente, eu queria possuir esses símbolos. A grande - e vital - diferença era: eu queria possuir mercadorias bonitas, seja da C&A, da Cavalera, da Citycol, ou do camelô da Taquara. E me senti autêntico mais uma vez; genuíno mais uma vez. Me senti o Matheus mais uma vez.

sábado, 24 de outubro de 2009

Minhas teorias - 03


Mundo Dançante
Qual a nossa sensação quando dançamos? Sei lá, falando por mim, é algo que se assemelha à liberdade. Ao involuntário, à espontaneidade, à vivacidade em si. E eu acho que é exatamente disso de que o mundo precisa! Dança! Pessoas dançando. Não só dançar por dançar. Sançar por dançar, sim, somado a tudo que a dança representa! Não ter medo de, quando ouvir uma música alegre na rua, deixar-se levar pelo som e contribuir à normalidade do cotidiano com um ou dois passos de dança; não ser chamado de maluco só porque anda mais animadamente, só porque escuta uma música mais alegre. Então, se as pessoas se deixassem envolver pela música, e permitir que esta penetre por todo o seu corpo atingindo locais escuros e desconhecidos dentro de si, fazendo despertar uma loucura, um fulgor, um frisson louco que cause um remexer mais louco ainda de extremo a outro do corpo, o mundo com certeza seria um lugar, no mínimo mais leve, sem tantos estresses, muitas vezes desnecessários. Se as pessoas ainda ouvissem o que as pessoas têm a dizer. Se elas ainda aguçassem suas percepções, suas sensibilidades e suas peraltices, o mundo, sem dúvida seria diferente. Se as pessoas dançassem, na chuva, no sol, no momento em que quisessem... Tudo seria tão mágico e divertido... Até utópico.

Minhas teorias - 02


Tempus Fugit


A vida é curta e longa demais. É, isso mesmo. Ela é curta demais para perdermos tempo e deixarmos de viver, e longa demais para nos apegarmos a pequenas coisas e erros.

A vida é fugaz, muito mais do que parece. É um fio tênue no qual nos equilibrando pendendo mais para um lado, mais para o outro, flertando com o perigo, com as aventuras e seduções. Se nos deixarmos esquecer, se nos deixarmos perder por toda essa vastidão, acabamos esquecidos! Longe, num infinito atemporal distante de tudo, de todos e da vida que devíamos, mas não conhecemos! E quando vemos... Acabou.

E ao mesmo tempo... Ai, ela é longa... Se arrasta, se estica, se dobra e desdobra ao longo de seu extenso caminho. Nos dá tantas chances! De mudar, recomeçar, remudar e começar! Sempre que quisermos, que houver necessidade, que queiramos, poderemos. É uma gama de opções traçadas, listadas por nós mesmos a serem executadas. É um mar, um oceano de possibildades cuja profundidade mede-se em anos.

É curta e longa.
Dependendo, é claro, do seu proveito.

Minhas teorias - 01


Coisas Simples

A música muda, eu mudo com ela. Elaé alegre, na maioria das vezes, eu fico alegre.
O dia tá legal. O céu tá limpo. O sol irradia-se com toda a sua força e volúpia. Pra quem? Pra nós.
Eu to chegando a minha casa, depois de um dia, po, exaustivom e vejo que o céu tá cheio de estrelas.
É quinta-feira. Eu lembro que amanhã tenho vestibular, mas vou perder um monte de aulas de física E de química. Porra, do que mais eu preciso??

Felicidade é um estado de "por que não?" e não de "por que?", as pessoas deviam aprender isso. Você não precisa de motivos para ser feliz, simplesmente porque você já os possui! Você vive, respira, come, dorme, tem a permissão de viver, de aproveitar esse mundão que está aí fora, esperando pra ser curtido, pra ser sentido, acima de tudo. Não mse deve pensar "por que ser feliz?" e sim, "por que não ser feliz?".É claro que somos humanos e coisas ruins acontecem a todos, mas porra, não se tem que deixar abalar por isso.´

É simples: quanto mais motivos nos dermos para sermos felizes, mais a nossa felicidade será independente do mundo.

Absorção


As nuvens, quando espalhadas, preenchendo o céu, lembram-me muito de mim mesmo. Sei lá, tudo em mim, dentro de mim, sobre mim. São as várias coisas que rondam a minha mente sem parar, causando-me tanta dúvida, tanta desordem, tanta... Eu não sei... É uma sensação completamente estranha. Que causa-me um - mais estranho ainda! - sorriso. É, um sorriso. É como se todas essas incertezas fundissem-se numa única sensação de alegria, ou de gratidão, sei lá, por estar vivo. Eu sei que para uns, isso certamente representa uma visão (ultra)romântica da vida, mas e daí? Eu já disse, sou um romântico bobão. O curioso é essa coisa de como tudo, o ambiente, as pessoas, as nuvens no céu, a música aos meus ouvidos, exercem tanta influência sobre mim. Talvez eu seja uma daquelas pessoas que absorvem tudo das outras. Talvez eu seja uma daquelas que param na chuva, deixando-se encharcar apenas para aprender a sentir tudo como é. Talvez eu simplesmente seja. E só. Porque eu não preciso de mais nada para ser, eu posso simplesmente ser, e é isso aí. Assim, simples como um ponto final.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Catalepsia - 03

Eu pensei em falar da minha morte, da maneira como se acabou a minha não-vida. Será que foi planejado? Será que alguém controla isso, alguém tem esse poder? Isso seria muito injusto! Por que alguém poderia escolher a hora da minha morte? Sem me consultar, sem saber de nada...? Sem saber se no dia seguinte, eu teria o melhor dia da minha vida? Ou conheceria uma mulher incrível? Porque isso é - em tese - a morte. E a morte não espera - por mais que alguns romancistas digam o contrário. Não espera ninguém. Ela simplesmente apaga as luzes, põe o sol e lhe dá uma lua de consolação, para que você saiba que o fim está próximo.

Será que eu to no limbo? Esse local de eterna transição, para onde vão as almas perdidas? Sem ida, nem vinda, sem nada? Se depender da minha alma, é bem capaz mesmo. Ou será que não? Quer dizer, seria melhor que a morte, o limbo? Ou seria já dentro da morte? Parte dela? Será que a minha alma tá sendo disputada, entre o limbo e o inferno? É, o céu já ta fora, com certeza... E eu to numa espécie de sala da espera, sem cadeiras, revistas ou música ambiente?

Ou talvez não. Talvez eu esteja dormindo, talvez eu esteja bêbado, talvez eu nem esteja. Talvez eu esteja é cansado de estar, ficar, permanecer, ou qualquer outro verbo de ligação que me leva a algum estado... Talvez eu não queira mais. Talvez mais nada. Nossa, eu odeio essa palavra, talvez. Me lembra dúvida, sabe? Quer dizer, é uma dúvida. Um talvez. Aff...

Como será que foi o meu enterro? Onde foi? Eu quera tanto saber... Será que foi no Jardim da Saudade? Ai, eu adoro o Jardim da Saudade! Se bem que no meu caso, com certeza, não teria saudade, nenhuma, mas eu sempre quis ser enterrado lá! De camisa branca, calça jeans, e All Star azul. Mas é claro que ninguém devia saber disso, né? Quer dizer, pra quem eu ia contar? Devo ter sido enterrado num desses ternos estranhos, com uma flor amarela. Isso se eu tiver sido mesmo enterrado... Sei lá, né, com tantas valas por aí, parques, bosques... Nunca se sabe, né? Tipo... Você acha mesmo que as pessoas são enterradas em Veneza, com um canal daquele tamanho, daquela profundidade?

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Gaveta

E eu sinto tudo mais uma vez.
E eu mexo, remexo nessas lembranças, e tudo vem à tona. Já se passaram quantos? Seis meses? Meio ano? E a persistência diante da resistência. O correto perante o errante. Um mausoléu de lágrimas secas abre-se diante de meus olhos, tentando arrancar deles munição, e quase conseguindo, admito.
A música veio como encomenda. Certeira como o tiro que acertou-me, como um baque, uma porrada. Entranhando-se pelos meus poros até alcançar-me a alma, a densidade do meu emocional, a fronteira entre dor e amor. E tudo isso veio novamente. Abrindo-me a ferida, mergulhando-me em dúvidas passadas.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Ele explodiu, moço

Ele explodiu, moço. É, foi sim, eu juro! Acredita em mim... Fedegunda! Da peça! É, foi como o dela... Explodiu de tanto amar. Se bem que eu não amo tanto quanto ela, mas eu nunca vi coração explodir de outra coisa! Ele cresce, se alimenta, engrandece cada vez mais, até não caber mais aqui, no peito. Na verdade, ele ultrapassa o limite do centro e passa a ocupar até o lado direito! É sim...! O senhor nunca viu? Mas não foi assim com a Fedegunda, aquela menina. Ela simplesmente perdeu. Isso, sumiu. Ele foi se esconder dentro de um outro coração, de um outro moço - na verdade, os desejos da própria Fedegunda! É, não é fácil de entender não. Mas desde quando os sentimentos são fáceis? Desde nunca, né!
Então, moço, no meu caso, foi explosão mesmo. Mas não acho que foi por engrandecimento. Acho que foi por agitação mesmo, sabe? E a minha cabeça ajudou, com certeza. Ela foi a grande vilã desse lance todo que envolve o meu coração! Ele é tão inocente, é até grandinho, mas é tão inocente que se deixou levar pela cabeça, essa cobra. E o mais estranho é que o meu é um coração experiente, ele ama bastante, com bastante frequência, apesar de não estar amanda ninguém agora. Isso que é mais difícil de acreditar: um coração tão experiente cair nas garras gélidas da cabeça... A Fedegunda teve a ajuda do Tempo. Ela teve catorze dias, duas horas e um minuto primeiro pra costurar o coração dela. Mas e eu, moço? O senhor pode me ajudar? O que eu faço agora que ele explodiu? Espero se reagrupar? Vou juntando os pedaços, ou mando a cabeça começar o trabalho? Como eu não mando na cabeça, e são muitos pedaços pra juntar, acho melhor eu simplesmente esperar. Até porque, uma hora ele vai ter que bater forte, né? E quando cada pedacinho começar a bater, eu aproveito e os junto todos, assim como a Fedegunda!

É, moço, no meu caso, eu acho que pensei demais, sabe? E o pobrezinho não aguentou...

Catalepsia - 02

Enfim, nessa noite sem estrelas que habito, nesse entremorte - ou talvez-morte - em que se tornou a minha não-vida, nada posso fazer por nada. E acrescento que, se isso é a morte, ela não traz respostas a ninguém, apenas mais dúvidas. Sim, todos mentiram para nós, e, se isso é vida após a morte, eu prefiro a minha não-vida de antes. Estranho... Eu nunca pensei preferir aquilo a qualquer outra coisa. Novas circunstâncias, novas preferências. Mas acho que não prefiro não... Dá no mesmo.

Mas por que, então, chamam a morte de descanso eterno? Até agora, não descansei nada! Só descambei a falar (é estranho falar "falar", já que a minha boca não se mexe ou emite sons) como um louco, e nenhum descanso. Se bem que nem tentei... E acho que nem quero.

Estranho mesmo como até agora eu não lembrei de nenhum fato, ou pessoa da minha vida... Agora que eu penso, eu percebo. Será que isso é triste? Eu sei lá, não controlo a minha memória... E quem na minha não-vida foi tão importante assim para ser lembrado agora? Acho que ninguém. Ninguém do qual eu queira falar. Houve pessoas, sim. Houve feridas, que aparentemente nem a - por que não? - morte pôde curar. Então estou bem - ? - assim. Sem ninguém, como sempre, mas sem necessidade de ninguém, como nunca.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Alegria, alegria!

"Caminhando conta o vento
Sem lenço, sem documento
No sol de quase dezembro...
Eu vou..."

Sim, eu sigo. Caminhando contra tornados, tufões e o que houver. Sem lenço, sem isso ou aquilo, apenas comigo, ou consigo, se preferir - já que, a fundo, não sei com quem caminho... A chuva, espantei. Foi, hoje à tarde. Num repente, ela se mandou... Eu a mandei se mandar. E foi assim que o sol ressurgiu pra mim. Num misto de turbilhão e vertigem, de incerteza e indecisão, de pesar e levitar, ele reluziu sobre mim, meus pensamentos e sentimentos confusos.

Não há escuridão que a luz de uma vela não dissipe, assim como não há tristeza que o fulgor de uma paixão não afaste.

Agora a alegria reina.
Alegria, alegria!

domingo, 11 de outubro de 2009

Mergulho

Ele fechou os olhos.
Apenas escutava.
Transportava-se dali. Fugia da névoa que o rodeava, o envolvia interna e externamente. A música aos seus ouvidos convidava-lhe, sedutora, a embarcar na sua doce e sublime melodia, para juntos, fundirem-se numa única onda, tridimensional, a levitar pelo fino ar em que estavam, realizando curvas, elipses, zeugmas, assíndetos...

Ele abriu os olhos.
Viu seu mundo em trezentos e sessenta graus.
Girava em torno de seu próprio eixo perdido ao vento. Seus olhos encharcados perdiam-se em suas desórbitas, já desorbitadas pelo leve movimento circular que realizava com destreza e rapidez, quebrando, furando, deslizando pelo céu como uma agulha cortante que dilacerava as nuvens, os sonhos e as desesperanças...

Ele abriu o corpo.
Sentiu o mar nebuloso filtrá-lo por completo.
Mergulhava na neblina de seus anseios e aspirações. Seu antes-peito abrira-se ao tudo, ao mundo, ao outro e à si, conferindo-lhe universalidade, um sonho antes distante, agora palável, possível do toque ou não, mas sim, da sensação maravilhosa do sentir universal, da sensibilidade eterna, do sabor da alegria.

Sorriso Bobbo

Hoje foi um sorriso bobo.
O tempo todo. Aquela mistura de bobeira e garotice estava estampada na minha cara. Em quase todos os momentos, relembrava.
O porquê, desconheço. Nem imagino. Fico buscando soluções, causas, consequências na minha mente, mas elas simplesmente não existem... Fico rindo, pensando, ansiando e rio novamente, perante tudo o que me transpassa. Afinal, é uma ironia tão grande algumas coisas... Uma pena, outras não serem. Se a vida toda fosse irônica, a verdade seria linda.

Minguante

Iluminado pela luz do computador, percebo o meu semirreflexo na janela. Nesse momento, o que vejo é um mosaico. São várias formas, vários pedaços de coisas que pairam diante de mim querendo expor-me significados. A lua encara-me em seu quarto minguante. E eu, minguando no meu quarto, refletindo, pensando, me cansando. Eu acho que to começando a cansar disso. Ou não. Eu quero, mas não quero. Eu quero, mas quero ser querido. Essa é toda a diferença!

sábado, 10 de outubro de 2009

Armadura

Nós somos tão vastos dentro de nós mesmos. Eu sinto como se fosse uma nova parte de mim. Corajosa e medrosa. Impetuosa e receosa. Sem pudor e envergonhada. Ao mesmo tempo que teme... Sei lá, teme alguma coisa, não tem medo de assumir-se humano, com erros, desejos e tudo, tudo que o humanismo (?) pode oferecer. Quero gritar, sorrir, chorar - de paz, de medo, de tudo - quero entender. Acima de tudo, quero entender por que saem lágrimas dos meus olhos enquanto ouço Portishead e teclo meus sentimentos. Eu queria, acima de tudo, compreender... Compreender o que sinto, o mundo, as coisas. Compreender o meu medo de lutar, se é que deve haver luta.
Enquanto a música recomeça, eu retiro a armadura, as falsas ilusões. Cada peça dessa armadura, essa carapaça que eu não sei de onde surgiu é deixada de lado. Retirada à medida que a lágrima rola pela amargurada face. E ei-me aqui: com medo, receio, temor. Ao mesmo tempo, tento preencher-me com alegria, com uma sensação de humanidade, um desejo de parecer completo, feliz. O resultado... Bem, quando eu saber, aviso.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Reboot

écomoseeuestivessenumcovil!
c e r c a d o d e t u d o o q u e a b o m i n o !
cercado das risadas, das atitudes, da falta de princípios e muitas coisas mais...!
eissomedesespera,mesufoca!
eu quero ser l i v r e , eu quero ser p l e n o ! eu quero aproveitar o que há de melhor em mim e no mundo com quem me faça bem.
eu preciso desenvolver uma carapaça ,
uma resistência contra desilusões, decepções,
contraomundoláfora...
e u n ã o p o s s o m a i s . . . !
chega... por favor, chega... é o auge, o limite.
são as pequenas coisas,
fragmentos de outras
coisas que f o r m a m esse a b o m i n á v e l m o s a i c o e me faz muito, muito mal.
me faz MAL e me faz querer fazer mal.
sim, eu sou humano, eu posso perfeitamente querer fazer mal - desde que não o faça.

Catalepsia - 01

O dia não amanheceu pra mim. Não se iniciou. Apenas terminou, escureceu, desbotou. Uma vez para nunca mais. Mas nunca mais? Nunca mais como, se ainda sinto a vida a percorrer-me o corpo? Se for a vida que, de fato, me percorre... Mas fato é: eu a percorri, a vida. Percorri tão fugaz, tão medroso, tão rapidamente. Mas não me arrependo, somente porque estou gostando desse meu estado Brás Cubas em que estou, esse entremorte, se assim pode-se dizer.

Foi tão de repente. Até sem graça. De tão percorrida a vida, a morte seguiu a sua velocidade. Deu-se abrupta, súbita, sem direito a despedidas. Não que eu queira me despedir de alguém... Eu não possuía muitos a me sentir... Mas também não me arrependo. Se dizem que da vida não levamos nada, acrescento: não levamos nada, nem ninguém - a não ser em circunstâncias bem específicas, como uma chacina, ou segurar alguém ao cair no abismo (ok, é brincadeira). Pode parecer meio individualista, eu sei, mas sou assim. As companhias de nada adiantavam-me a não ser para o tédio - para causar-me o tédio - ou bloquear-me as ideias. Ah, sim, eu escrevo. Sou escritor. Ou tento ser. Se arte é subjetiva, para mim, chega a ser abstrata.

Mas, retornando à essência do meu relato, o sol apenas se pos para mim naquele dia. Por uma questão de justiça, admito: a lua, para mim, nasceu, mas - assim como as pessoas - não adiantou-me em nada. Se ainda fosse o sol...! Presenteando-me com mais um dia, um nascente, uma manhã de nuances âmbar por detrás das nuvens. Mas não. Tive o desprazer de um luar e um poente. Na verdade, nunca gostei de poentes. A ideia de esmorecência da vida me desagrada, apesar da minha vida ser uma... Não-vida.

É isso aí. Eu não vivi, eu não-vivi, isso sim. E chega a ser triste só perceber a não-vida na morte (ou seria talvez-morte?), sem possibilidade de recuperação ou mudança. Não que eu acredite, de fato, na minha própria mudança. Isso seria quase utópico. Acredito na mudança sim, na redescoberta, mas apenas não tenho a força para isso. Não que agora faça diferença... Pó não faz mudanças. Cinzas não mudam. E por mais poético que possa parecer, eu não sou uma fênix, então nada renascerá das cinzas, já espalhadas pelo vento. E, pensando bem, eu sou cinzas? O que aconteceu ao meu corpo? Eu que não o sinto, vejo ou percebo, não sei. Virou nitrato? Comida? Adubo? Eu acho que não faz diferença - aliás, o que faz?

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Flash

E num minuto não é mais.
O que era...
Não.
Já foi.
O que já foi?
Agora, já fora.
Agora?
Não, naquela hora...
Em qual?
Já era...

É, humano!

Hoje eu andei como nunca antes. Sentia os pés no chão, o vento contra o rosto. Ouvia as pessoas a falar, pensava junto com elas os seus relatos e causos. Hoje eu senti o dia, não apenas o vivi. Senti cada ocorrência, passo, movimento, tudo.
Foi quase uma liberdade ao contrário. Uma liberdade interna, de mim pra mim, que se expande por cada centímetro do meu próprio corpo... Eu me senti livre para pensar, sonhar, errar - eu to louco pra errar! - e fazer tudo, qualquer coisa mesmo!
Sabe... Hoje eu descobri que sou humano. É, humano! E foi tão simples e, ao mesmo tempo, fascinante perceber todos os erros que eu estou sujeito a cometer. Porque isso é ser humano. É saber que pode-se cometer erros e - por que não? - gostar de ter tal escolha, tal sujeição, tal possibilidade. Sem, obviamente, arrepender-se.

Transparência.

Eu não consigo.
Me desculpe, mesmo, mas eu não consigo ser fosco. Fumê, nublado, essa porra toda, não. Não dá mais pra mim. É quase uma necessidade, sabe? Um desejo anormal, louco, voraz! Eu preciso gritar ao mundo, me mostrar ao mundo, deixar que o próprio mundo me mostre o certo... Mas que certo? Ainda há o certo?
Enfim, eu preciso ser transparente, translúcido, límpido, comigo mesmo. É quase uma questão de consciência, de compensação, de desejo de mudança nessa sociedade conturbada. Adeus à lógica da mentira, da inverdade. Adeus. É hora de mudança, de melhoria, de coragem.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Lutar ou se entregar?

Ser ou não ser?
Eis a questão.
Amar ou não amar
Compete ao coração.
Fazer ou não fazer?
Tem solução?
Lutar ou se entregar
Resume a questão.

Onda

O que rola lá, rola aqui.
Mas o que rola aqui, não rola lá.

Isso é simplesmente a base.
É apenas nisso que eu me concentro quando tudo dificulta.
Aqui, as palavras brotam; aqui, o amor vive por meio de palavras.
O sentimento transborda da cabeça para a tela.
Todos se unem para um propósito.

Como uma onda de frases.
Tudo se prepara, vagarosamente vem,
Atinge o seu ápice, torna-se difícil, muito difícil evitar de... De sucumbir.
Mas é uma onda. E uma onda sem importância...
O que rola aqui, não rola lá.

Milena e Bruno

- Vem, vem logo comigo!
- Pra onde você ta me levando?
- Você vai ver... Corre.

- Bruno, isso é...?
- Exatamente.
- Meu Deus...
- Eu sei.
- Como você achou esse lugar?
- Há muitos anos, meu pai me trazia pra cá, explorar as grutas dessa região. Essa é a minha favorita.
- É linda...
- Como você.

- Não fala isso...
- Eu te amo. Você é tudo pra mim.
- Bruno...
- Me faz MAIS feliz, Milena. Por favor... Te amar é maravilhoso, pensar em você, te desejar, te querer, pensar no seu rosto, na sua boca... Mas torna isso realidade.
- Bruno...!
- Me deixa sair do sonho. Me deixa viver o sonho!
- Eu não posso...
- Por essa lágrima. Faz isso por essa lágrima, só por essa...

- Lamento, não posso.

Cicatrizes

Houve aquela. Aquela improvável, mas amável. Há dois anos, não? Na minha cabeça, havia uma disputa meio estranha... Como se eu tivesse que provar alguma coisa... E eu escrevia e escrevia e escrevia... Como o amor me fazia - e faz - escrever! Escrevia até o que planejava. Versava a ficção, o sentimento, o que me viesse, mas que fosse sobre ela. Seus cabelos, seus incomuns olhos, sua aura de imensa luz. Me lembro nitidamente da música, do italiano, daquele sorriso revigorante - do meu sorriso, agora, ao relembrar tudo isso - e de tudo. Da rosa que não chegou a ser dada, e do telefonema que enterrou de vez as possibilidades.

Depois dela, qual foi? Aquela! Acho que foi tão rápido e surreal... Tão... Ilusório, quase não acreditado. Merece sim, um paragrafozinho, não pelo o que foi - quase nada.. - mas pelo o que é. E não o sabe, claro...

Não quero falar de todas nesse intervalo. Sim, foram muitas. Bastantes mesmo... Mas não tão importantes...

Houve - ainda há? - aquela outra. Ah... Aquela...! Foi maravilhoso amá-la... AMÁ-LA, sim... Foi uma delícia. Desde a descoberta, até a confirmação. Os textos, as poesias, as músicas... A doce melodia nos meus ouvidos, enquanto tremíamos à noite escura, e eu acariciava suavemente, seu belo rosto, sem que ela nem soubesse. O sentimento que emanava das pontas dos meus dedos era, até então desconhecido por ela. Houve, então, a descoberta. E tudo tornou-se melhor ainda... Por incrível que pareça, amar tornou-se melhor ainda...

São muitas, diversas, mas nenhuma igual a outra, e nem outra igual a uma.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

O Último Romântico

Nossa, como eu cansei...

Cansei do homem; da sua hipocrisia, superficialidade... Como eu me sinto cansado de algumas pessoas à minha volta. Como estou farto das pessoas quererem dominar a situação a qualquer. Como eu estou PUTO com a descartabilidade das relações e das pessoas.

Eu devo ser louco mesmo!

Eu cansei da segregação; cansei da rotulação; cansei do julgamento, da presunção e a pretensão. Cansei da falsa hierarquia imposta por alguns homens a situação ao seu redor... Cansei de esperar pela mudança, e sofrer pela consequência, cansei MESMO.

Chega dessa guerra fria unilateral. Dessa guerra estúpida disputada por um jogo de inflências. E chega dessa atitude imatura; do ignorar; da fuga dos problemas reais do mundo real.

A vida não é um conto da Disney. Aprenda isso.


[possui alvo específico]

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Quem se importa?

Milhões de gotas de lágrimas de amargura caem sobre as páginas secas de um jornal qualquer. O esboço do desgosto, tristeza e aflição, marcado minimamente nas páginas secas de vidas passadas. Páginas reveladoras, sem misericórdia, perdão ou sentimentos...
O grito surdo que silencia forçadamente a noite de todo o país. Provindo de um pequeno e aparentemente inofensivo aparato, causador de lamúria, tristeza e desespero.
Toda a pompa, cores e surdos barulhos estúpidos já se foram. Pois afinal, estamos de luto. A festa acaba-se no momento em que se nasce. No momento em que recebe-se esta graça – ou, devido ao atual mundo seco e frio – esta maldição. A tão antiga dádiva, das mãos do desconhecido, que hoje é um castigo.
E por causa desse mesmo desconhecido é que nos vamos. Para sempre.
Rosas brancas, vermelhas e amarelas, sobre um túmulo inquietado pela ganância. Marcado pela glória do inimigo, que deixa uma rosa negra como marca de sua vitória.
Um mar de chamas infernais o rodeia. Para sempre estará guardado no meio de seus semelhantes, que um dia já foram alguém, mas hoje são apenas mais uma vítima da violência brasileira.
Mais um, menos um... E daí?! Segundo o pensamento hipócrita, quem se importa...?

terça-feira, 11 de agosto de 2009

O Riso do Louco

"Para, delícia! Não, não faz assim, eu não resisto...! Assim você quer me deixar maluco!"

E ela conseguiu.
João não mais se considerou, desde então, um homem normal. Ele precisava dela. Precisava como nunca precisou de nada em sua vida. Oxigênio, comida, que importavam? Não importavam, nada. Isso não era normal. E preocupava João. Muito.

"Por favor, me dá um beijo. Só um... Depois de tudo, amorzinho, nem um só? Não faz isso..."

Por quê?! Era só um beijo! Um! Rápido e indolor. Sem pouca, sem muita língua, era só um beijo pra ele poder chamar de seu. Era só o tocar de lábios diferentes... Era... Era tudo para João, coitado. A única coisa que ele não conseguiria arrancar daquela mulher.

"Sabia que hoje é meu aniversário? É verdade! E eu os deixei lá, vim te ver. Não acha que eu mereço um prêmio?"

Não que fosse a intenção de Rosana, mas ela conseguiu deixar João maluco. Não era algo penoso para ela; não era algo com que se importar. Era apenas o João. O João de sempre, dizendo as besteiras de sempre, pagando o preço de sempre e nada mais. Era tudo como de costume. E, de repente, ela o enlouqueceu.
Na verdade, não foi ela, foi tudo nela. O jeito, o cabelo, busto, o sexo. Tudo, tudo nela enlouqueceu João de diversas formas, mas loucura nenhuma foi tão intensa quanto a causada pelo beijo. Não pelo beijo, pelo não-beijo. Isso o corroía! Era a única coisa intocável naquela mulher: os lábios - cada vez mais sagrados para João.

"Eu descobri o que é felicidade, sabia? E descobri que ela custa caro... Sem ofensas, amor! Mas, obviamente, vale a pena. É a felicidade, sabe? Ou pelo menos, parece com ela..."

O parecer era o problema. A ilusão que ele causa. A irrealidade. Esses eram os problemas enfrentados por aquele homem cego.

"E eu descobri também que, na vida, tudo tem um tempo. E nós temos que perceber quando o nosso tempo está perto do fim, sabe Rosana?"

Coitada... Temia pelo pior. Pelo seu pior.

"Então, eu quero o seu beijo."

E dessa vez, a persuasão era mais forte. Não era por meio de lábios, e sim, de punho. De punho armado, ameaçador. As lágrimas de Rosana não lhe incomodaram. O tempo corria e ele precisava saciar aquele desejo que ardia-lhe o peito. Rosana, temerosa, aproximou-se, olhou no fundo dos olhos de João procurando algum resquício de sanidade, e encostou seus lábios trêmulos nos sedentos de João. Sentiu-o como nunca antes. Como nunca desejou e com a raiva de quem recusa todo o dinheiro do mundo para não sacrificar sua casta boca.

O beijo terminou e ela afastou-se de seu admirador. A expressão dele era confusa. Seus olhos fitavam a mulher intensamente, em cada centímetro de seu corpo escultural. Maquinalmente, seu braço começou a estender-se, apontando o revólver na diração da outra. Com a arma em riste, apontando para o rosto desesperado de Rosana, João apertou o gatilho.

O riso dominou o aposento. O homem só conseguia rir. Rir e voltar a apertar o gatilho para confirmar a falta de balas no revólver. Loucamente, seu riso espalhava-se pela noite.

A passos largos, Rosana percorria o corredor, desejando livrar-se daquele trauma e daquele homem obcecado. Subitamente, parou. Olhou ao seu redor e ouviu, apenas em sua mente, o riso do louco. Apertou o passo, desceu rapidamente as escadas e cruzou o hall do motel como um furacão. A cada instante que parava, ouvia, macabramente, a risada ecoando pelo breu, martelando-lhe a sanidade - se ainda houvesse alguma.

domingo, 9 de agosto de 2009

Metavício!

É incrível! Como eu tento forçar as coisas a acontecerem... Eu simplesmente abri o painel do blog, cliquei em 'nova postagem' e chegou até a me dar um friozinho na barriga pensando "e agora? o que eu escrevo?". Realmente, em alguns casos, por aqui, eu forço a barra sim - e, na maioria das vezes, acabo caindo na metalinguagem, fazer o que, né?

E aí, eu, encanado como sou, começo a buscar esse tipo de comportamento na minha vida cotidiana, na fila do cinema, comendo a caneta na escola, e percebo que em alguns aspectos - não-mencionáveis por segurança - eu realmente acabo por forçar a barra.

Mas tudo bem, até aí tudo bem. As pessoas, aparentemente, têm uns desejos que querem porque querem realizá-los. Será que a situação é semelhante? Não sei, vale a pena pensar. Quando se força a barra, ou se apela numa certa situação, por que se faz isso? E o que aconteceu com os métodos normais de conquista (vide persuasão, conversa, argumentação, tortura)?

Sei lá, da minha ótica, parece algo meio infantil, numa análise mais profunda ou esquisita. Tipo, crianças choram para conseguir as coisas. Meu irmão de 5 anos grita; meu primo de 2 se joga no chão. Pessoas adultas (?) forçam a barra. E como forçam...

[prometo me livrar da metalinguagem, ok?]

sábado, 8 de agosto de 2009

Metapalavra

Palavras soltas, unidas, perdidas numa mente engarrafada. Palavras belas, feias, grandes, pequenas. Palavras que já fizeram a diferença, palavras que ainda a farão. Qual o significado das palavras pra você? Não as que você lê, mas aquelas que ainda não foram lidas ou proferidas ou pensadas, mas sentidas. Palavras que se bastam apenas pelo que representam. Como estas.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Mão Dupla

A vida, por ser composta de fluxos é muito rápida, dinâmica, quase atemporal, de tão veloz. São ondas de energia, de matéria, de sentimento, de espírito, de tudo o que se possa imaginar; interações sociais, físicas, emocionais e até inconscientes. Porém, o mais importante a se retratar, é que a vida está quase sem tempo para ela mesma. E as pessoas acabam por ser vítimas desse processo. Cada vez mais, não têm tempo para si mesmas e, muito menos ainda, para às outras ao seu redor.

Mas o homem, por mais que venha tentando - e se esforçando bastante para isso! - não consegue se tornar uma ilha. Ele ainda possui vínculos, elos com aqueles que o rodeiam. Esses elos, cada vez mais tênues, transmitem tudo o que há de mais importante do interior desses indivíduos. Partilham com o outro, o que há de melhor e de pior. Por mais que o homem não admita, este vínculo existe.

Então, obrigado. Por partilhar seus medos comigo. Por escutar os meus. Por não aderir à superficialidade tão comum à sociedade e fazer da nossa amizade algo verdadeiro.

[a vários destinatários. Localizem-se].

A Mudança da Realidade

É triste perceber a realidade. A verdade de que tudo é uma merda. De que o tempo é escasso. De que as pessoas não são suficientes. De que as pessoas são quase autossuficientes - no que não devem ser! De que o mundo é redondo em partes, mas quadrado em outras. De que a vida é fugaz e o homem a despediça loucamente. De que o egoísmo e a superficialidade tomam conta da sociedade. De que velhas amizades às vezes perdem-se pelo tempo, ou são espalhadas pelo vento.

É duro perceber a realidade. Perceber-se descartável, assim como todos os outros. Reconhecer-se mísero na sua própria existência, e imagine na dos outros. Observar o fluxo irrefreável da mudança da vida. Desapegar-se de tudo o que possui em termo de juízo, valores e tudo o mais. É duro, muito duro.

É fácil acostumar-se com isso?
Com a mudança?
A realidade?
A mudança da realidade?

E o meu amor?

E o meu amor?
O que diria se eu partisse?
O que diria se estes versos não ouvisse?
E o meu amor?
O que diria da ausência?
O que diria esquecida na dolência?
E o meu amor?
O que diria do chorar?
O que diria enquanto o pranto derramar?
E a sua voz?
Sofreria ao embargar?
Lhe pesaria a eloquência lhe faltar?
E o seu corpo
Fecharia em reclusão?
Esconderia o doce e frágil coração?
E os seus olhos?
Brilhariam na partida?
Exporiam a tua alma tão sofrida?
E o meu amor?
O que diria se eu partisse?

Relato de uma quinta-feira

A batalha era quase covarde... Tudo conspirava contra ele! O escuro, o vento, a suave brisa que entrava pela janela aberta ao seu lado e, acima de tudo, o não poder. Aquilo que não se pode fazer, por alguma razão, é muito mais atraente, tentador.
O som chegava aos ouvidos de Tales em pequenos intervalos. Apenas algumas palavras, no máximo frases, eram absorvidas. Mal entendidas, mas escutadas, sim, elas eram.
Ele olhava, entre as frestas de seus olhos, aquele esquema e tudo intensificava-se; aos poucos, perdia os sentidos, o domínio de si próprio e a poquíssima vontade de ali estar. Em várias tentativas, desviava o seu olhar para o lado de fora e, por alguns segundos, observava o movimento dos carros e das folhas que pendiam presas nos galhos. Sentiu inveja de ambas; da liberdade do carro, da singularidade das folhas, daquels senhora de preto e boné que praticava a sua caminhada matinal e de tudo após a janela.
A buzina tocada por uma mão impertinente chamou-lhe a sua própria realidade, e os olhos de Tales ganharam um suspiro de vida, algo momentâneo, uma onda de atenção. O garoto olha ao seu redor e percebe que não está sozinho na batalha. A maioria dos que estavam ali também travava uma árdua luta.
Porém, à medida que a luta se acirrava, tornava-se mais difícil manter-se focado, concentrado...
- Pô cara, assim não dá. Quer lavar o rosto?
- Não, professor, ta ok. - desculpou-se Tales, enquanto esfregava os recém-abertos olhos.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Risadas Falidas

Meu Deus, como estava quente! Será que todo aquele sol nunca pararia de bater exatamente no mesmo ponto da nuca de Gabriel?! Enquanto sentia o calor fritar seu pescoço, o menino observava de longe, a rua se mover à sua direita. Nada fora do comum - além da merda a que chamam "calor" e a pseudo-necessidade - ninguém o convenceria NUNCA de que aquilo era REALMENTE necessário - de, mais uma vez, acordar às cinco e meia da manhã para ir a escola.
Sim, volta às aulas, inferno particular de um garoto em ano de vestibular. Se ainda fosse um ano normal, tudo bem. Mas não, não era um simples ano de vestibular (engraçado que essa palavra costumava causar calafrios, mas agora não mais. Ela já penetrou a derme desse menino em forma de ódio liquefeito...), era um ano de MUDANÇAS no vestibular, o que tornava as coisas acentuadamente, piores...
Então, para Gabriel, as férias foram um momento de valor inestimável, um descanso, obviamente, mas um extravaso sem igual! Ele nunca aproveitou tanto um único momento de sua vida, pois ele sabia que aquilo acabava. A cada segundo do dia que passava, aquela grandiosa sensação de, diga-se liberdade, parecia consumir-se, e Gabriel sabia que, dali a pouco, ela se esgotaria e seria, finalmente, hora de fechar a cara e falar sério. Engolir a dor, e os livros, de uma só vez.
E agora, enquanto voltava para casa, após o prelúdio dessa maratona a que chamam vestibular, ele sentia que devia falar sério, mas tudo o que saía de sua boca eram risadas. Risadas falidas, frias, mas risadas. E então, começou a rir de sua própria situação. Ria das risadas. Enquanto se observava e analisava as suas metarrisadas, chegou a pensar que fazia o certo, ao passo que todos os outros, os normais, os que não riam, eram os errados. E para ser completamente sincero, essa era a única certeza de Gabriel: ele estava certo. Em lugar da cara fechada, Gabriel esbanjava a face aberta; em lugar da crescente preocupação, o garoto mostrava a, considere-se, negligência; e ao invés da seriedade, exauria a risada, consumindo todos os músculos da sua boca até o momento em que fosse possível, para que quando seu rosto de fechasse, o fizesse apenas uma vez, e então tornasse a se abrir.

sábado, 1 de agosto de 2009

A Minha Loucura

Sabe... Por que, quando estou sozinho, e não penso em absolutamente nada, e olho para cima, e vejo a lua, só, no céu, eu penso em você? Mesmo sem sentir absolutamente (?) nada por você, eu penso em você. Nos momentos melancólicos, nesses momentos tão súbitos que não faço ideia de como surgem e como vão, você percorre minha mente de cabo a rabo. Por quê, cacete? Sabe? Eu juro que não entendo, e olha que a mente é minha... Enquanto eu procuro outros assuntos, outras assuntos, e tal, é você que habita a minha mente. E eu não imagino a intrínseca razão de tal fato.
Enfim, há vezes em que a minha mente vagueia pelos mais sórdidos cantos deste vasto planeta, e em quase todos, em meio à melancolia e à usual trilha sonora, encontro a sua figura. Quais as possíveis razões para isso? Porra, sei lá... Talvez porque quando eu costumava pensar em você, o meu pensamento ficava meio perdido por essas bandas, então, agora, quando eu retorno a esses locais você está lá, a me esperar. Ou não... Talvez por um simples apegozinho meio doido, de um viciado coração acostumado a amar, e tendo que lidar com essa ausência no momento. Então, meu little heart teve que puxar o que havia de novo - e não havendo nada, o qye havia de antigo mesmo - pra se prender. Ou não também... Ou até mesmo talvez, porque eu seja maluco. Não descartemos essa opção.

Ah sim, só pra fechar, eu gostaria de saber se dar pra ser melancólico e alegre ao mesmo tempo. Ao vezes eu consigo.

Manifesto e Desespero

Ela estava parada diante dele. Seus olhos inundados. E ele repetia as palavras para ela.
- Acabou. Simplesmente... Chega.
As lágrimas começaram, primeiramente, a brotar tímidas em seus olhos negros e profundos. Elas vinham, suavemente, preencher toda aquela negritude.
- Acabou.
Um soluço. Acompanhado pelo balançar da cabeça negativamente. Não... Não! Não havia acabado! Não poderia ter acabado! Não pode, não pode acabar! NÃO! Aos poucos, os sentidos começavam a se unir, e a pensar como um só...
- Eu não vou...
Ela disse suavemente.
- Eu não tenho como viver sem você...!
Não só seus olhos, mas sua voz estava em lágrimas.
- Eu não vou... Eu não vou... Eu estou te dizendo, eu não vou! Por favor, não vá! Fica comigo, me abraça, me abraça forte! Eu não vou... Eu não vou!
O homem andou rumo a porta, ela postou-se à sua frente, com seus olhos desesperados à altura dos dele.
- Não tem jeito, eu não vou! Eu não vou, eu não vou acordar amanhã e ver que não tem ninguém do meu lado! Não tem como eu viver sem você! Por favor, fique! Eu não vou, eu não vou! Não tem como! Eu estou te dizendo...!
Os braços da mulher agarraram o homem, à procura de um abraço não correspondido.
- Me abraça, me abraça! Me faz sentir sua, me abraça forte, meu amor! Por favor, fica comigo! Você é o melhor homem que eu já conheci!
Ele afastou-a de seus braços. Olhou-a no fundo dos olhos mergulhados na dor e, a passoa lentos, deixou-a sozinha na sala, com seus próprios urros.
- Você vai me amar...

* * *

baseado em http://www.youtube.com/watch?v=V3lTXB4t2so&feature=related

sexta-feira, 24 de julho de 2009

A Chuva

Há quanto tempo estava ali? Não sabia. A sensação era tão boa, e, certamente, compensava. Era como se toda aquela água que caía sobre ele penetrasse pelos seus poros e ocupasse o buraco em seu coração, dando-lhe uma falsa sensação de alegria. Obviamente, o rapaz do fone e lágrimas sabia que aquele delicioso gosto de felicidade era ilusório, mas melhor do que nada. Ele concentrava-se apenas em sentir. As gotas de chuva, a água escorrendo pelo seu corpo e ensopando a sua roupa, a grama encharcada sob seus pés descalços, e o cheiro da terra molhada. Como ele adorava aquele cheiro...
Esperava sem muito esperar. Estava ali mais por si mesmo do que por qualquer um. E enquanto sua possível companhia não chegava, aproveitava as presenças da chuva, a purificar-lhe o corpo e as ideias, e a do fone, a embalar-lhe os sentimentos.

° ° °

“Esses corredores são estreitos demais” pensava ela. Por vezes, quase tropeçou em alguns muitos pés. Convenhamos que ela já era meio estabanada, mas fora isso, os corredores eram sim bastante estreitos para tantos alunos.
Todos trocavam de salas, era intervalo, e a menina de bochechas ruborizadas andava, esquivando-se do maior número de pessoas de que conseguisse, com o fichário e alguns livros nas mãos. Quase chegava ao seu destino quando um grupo de pessoas mais apressadas que o normal esbarrou nela fazendo-a derrubar os livros.
- Droga...!
- Ajuda?
Antes que pudesse ouvir a recusa, o rapaz do fone e lágrimas se abaixou e começou a juntar os livros para ela, fazendo as bochechas, novamente, ruborizarem-se. Ela levantou seus olhos tímidos ao alcance dos dele, fixos, certos, na sua direção.
- Obrigada.
Com muita pressa, ela recolheu seus papéis e livros das mãos dele e afastou-se a passos envergonhados. Adentrou a sala num turbilhão e, rapidamente, procurou um lugar isolado, no canto, como se já previsse o que encontraria entre seus livros: havia ali uma desconhecida folha de fichário com uma familiar letra curvada.
- “Ser ou não ser? Eis a questão. Amar ou não amar compete ao coração. Te espero no gramado em frente à torre sul ao término da aula”. – seus lábios pronunciaram aquelas palavras num sussurro para que só o seu incerto coração pudesse ouvi-las.

° ° °

Parecia que o tempo não passava... Já estava ali, sabia, há muito tempo, mas sentia que não havia passado nem um segundo desde que chegara. Repassava, em seus pensamentos, momentos passados com ela. Daí o sorriso. Abriu os olhos e, mais uma vez, olhou ao seu redor à procura da sua companhia, e nada. Continuava ali com a chuva, a grama e a música, agora melodiosa, melancólica e esperançosa.

° ° °

Havia um dilema agora. Como na carta, ser ou não ser? Amar ou não amar? Ir ou não ir?
Ela não sabia. Mas será que deveria saber? É algo que se sabe? Ou que se sente? Ela não sabe. Daí o dilema.Vasculhava em sua mente razões para sim e para não, e as encontrava. Ambas. O problema era a escolha. Sempre a escolha! O poder da escolha. O poder de ferir da escolha. De ferir, de machucar alguém querido, estimado.
O sinal da dispensa despertou-a fazendo-a levantar e encarar a sua dúvida. Arrumava com calma seu material. Todo tempo era precioso Pensamentos flutuavam pelos âmbitos de seu coração e sua cabeça, e o tempo corria, acelerando seu coração; as pessoas partiam como que para deixá-la só com a sua escolha; suas pernas, até então paradas, pareciam tomar-lhe o controle e fazer a decisão por ela; porém, ao chegar ao batente da porta, o garoto do pingue-pongue fez a dúvida voltar a crescer...
- Oi amor!
E decrescer.
- Depois nos falamos, tenho jogo. – Respondeu ele, brevemente.
Uma tentativa em vão. Mas um bom teste. A escolha fora feita e, após esse diálogo (ou monólogo), seria tomada sem arrependimento.

° ° °

Agora a música era de espera; era paciente e solitária. O rapaz do fone e lágrimas estava agora sentado abraçando os joelhos. Seus olhos, ora abertos, derramavam lágrimas que se confundiam com a água da chuva incessante. A sensação, antes tão boa, começava a sumir; com a sua ausência, a solidão começava a se expandir pelo interior do rapaz. A espera chegava ao fim, assim como a música em seus ouvidos.

° ° °

A cada degrau descido, a dúvida aumentava. Ela descia aquelas escadas lentamente, num misto de culpa e aflição. Apesar do que acontecera à porta da sala, apesar da falta de atenção, o garoto do pingue-pongue era seu namorado, e isso, sem dúvida, ela respeitaria. Ela gostava dele. Gostava – muito? – dele. E por isso mesmo não entendia aquela vontade repentina de descer a torre sul da escola e se encontrar na chuva com um cara que ela sabia que gostava dela.
Ao fim da escadaria, seu dilema chegava ao fim. Agora, havia apenas uma única escolha à sua frente: sair por aquela porta ou dar meia volta e esquecer tudo aquilo.
De repente, a menina de bochechas ruborizadas se perguntou o que seria tudo aquilo. Aventura? Dúvida? Traição? Tentativa de disfarçar uma crescente incerteza em seu interior? E em meio a tal discussão interna, ela percebeu que agora havia duas escolhas: subir as escadas e não responder à nenhuma daquelas perguntas, ou girar a maçaneta e esperar a chuva trazer as respostas.

° ° °

A música ressoava pela sua cabeça e o fazia repeti-la. Primeiro, apenas para si, depois mais alto, e mais alto para o que mundo pudesse escutar. Para que alguém pudesse tomar parte da sua dor e dividir esse peso com ele. De pé, o rapaz do fone e lágrimas estava pronto para abandonar a chuva e a sua esperança.

° ° °

Seus ouvidos estavam colados à porta. Sua boca, entreaberta, e seus olhos, emocionados. Enquanto escutava aquela bela melodia a escapar da boca dele, fechava os olhos e imaginava a cena. A chuva a cair, a grama a sujar-lhe os pés e as lágrimas confundindo-se com a chuva. Ela não conseguia – infelizmente – imaginá-lo sem as lágrimas nesse momento. E, também infelizmente, sabia que, naquele momento, aquelas lágrimas eram culpa sua.

° ° °

Um som e um sorriso.
Mesmo sem vê-la, sabia que era ela. Os passos na grama. O leve barulho da porta. A qualquer momento, a doce voz que cantava em seus sonhos, mais uma vez se faria ouvir. Em sua mente, ele já via a imagem das bochechas ruborizadas molhadas pela chuva.
- Você vai ficar aí em pé?
O rapaz do fone e lágrimas com chuva virou-se e avistou a menina. Seus sorrisos encararam-se e eles se aproximaram. Sentaram-se lado a lado na grama molhada.
- Então, qual é o objetivo de ficar parado na chuva? – ela perguntou enquanto abria o guarda-chuva.
- Pneumonia. – A menina subitamente parou seu movimento. – Brincadeira. Às vezes é bom para aumentar a nossa sensibilidade. A nossa capacidade de sentir.
- Você sempre falando complicado. Entra aqui embaixo.
Eles se espremeram sob o guarda-chuva, ficaram bem próximos. Por um momento, o rapaz do fone e lágrimas ficou observando a sua companhia, muito feliz pela sua presença.
- O que você está ouvindo? – perguntou ela puxando um dos fones.
Agora, a música era outra, mais alegre. Por um momento, a menina de bochechas ruborizadas pensou como a música fazia parte da vida daquele rapaz. Enquanto dividia o fone, a música e aquela sensação com ele, pensava em como havia escolhido estar ali, e quando obteria as respostas para as suas perguntas.
- Ei!
Abruptamente, ele retirou o guarda-chuva de onde estava, desfazendo a proteção improvisada de cima deles.
- O que você está fazendo?
- Chega dessa falsa proteção. – Seu tom era, como de costume, indecifrável. – Que tal agora aprender a sentir de verdade?
- Você é maluco...
- Vamos, levante-se.
Ele arrancou o fone do ouvido dela e do seu também. Ao desconectá-lo do celular, a música – que havia sido aleatoriamente trocada – passou a tocar livremente pelo ar. Ela se levantou desprotegida da chuva e postou-se diante dele.
- Tire o tênis.
- O quê?!
- Vamos, tire o tênis! Como você vai sentir a grama se não usar os pés?!
- Você é maluco...! – e tirou os tênis. – Pronto. E agora?
A chuva caía gostosa. Os pingos eram finos, mas a chuva era densa. Era daquele tipo que te molhava por completo, ao mesmo tempo. Era só fechar os olhos e sentir o seu corpo se molhar lentamente, vagarosamente. A sensação crescia com o passar do tempo. Era ótima.
- Fecha os olhos. É basicamente isso... Mantenha-os fechados, mantenha a sua mente livre, vazia. Concentre-se no sentir. Não no que você quer sentir, no que você parece sentir, mas no que você, de fato, sente. O que essa água, essa chuva, cada gotícula dessa faz você sentir. Aprenda a sentir as coisas como são. Aprenda a ouvir e acreditar no que você sente. Apenas sinta a chuva na sua pele, no seu cabelo. A grama sob os seus pés, entre os seus dedos. A gota d’água que cai sobre o topo da sua cabeça e, pendurando-se por um longo fio de cabelo, sai em busca da sua liberdade... Apenas sinta...
A menina de bochechas molhadas e geladas abriu seus olhos molhados. Mas não de chuva. Assim como ela, o rapaz sem fone, mas com lágrimas a observava à suave melodia que pairava entre os dois. Já haviam partilhado fone, agora partilhavam lágrima. Ele aproximou-se dela, de forma a estarem a menos de vinte centímetros um do outro. Encaravam-se como nunca antes. Ambos buscando coragem, certeza, respostas. O rapaz não ousou forçar um movimento. O próximo passo é dela. Os olhos da menina se alternavam entre os olhos do rapaz. Era o momento da escolha.
Ela não agüentou. A música, as lágrimas, a chuva...
Voou sobre o rapaz e seus princípios e o agarrou num beijo interminável. Ficaram ali os dois; o rapaz com bochechas ruborizadas e a menina com lágrimas de dúvidas. Ficaram ali, embalados pela música, com os pés descalços na grama, sob a chuva que os dissolvia num único corpo, imbuído de amor e dúvidas.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Para Nunca Mais Voltar - 1

- Pode deixar. Eu sei lidar com ele.

Após essas palavras, Mônica desligou o celular. Sinceramente, não se sentia mais à vontade ali, perto daquele sobrado. As recordações não eram agradáveis. Mas a situação era outra. Anos se passaram, muitas coisas mudaram, e a irônica vida trouxe a jovem, novamente, ao seu ponto de partida, ao início de tudo.

Colocou os óculos escuros - ser reconhecida seria trágico a este momento - e andou apressadamente. Cruzou a alameda, como sempre abandonada do prédio e seguiu, cautelosamente, subindo as escadas. Em suas mãos, nada além de uma pequena... Diga-se alternativa.

* * *

Ele olhava a sua própria volta. Tudo em torno. As paredes, a caixa, o tapete. A cômoda, os papéis, a cola Pritt. A cola polar, o grampeador, a caneta BIC. A tampa da garrafa de guaraná, a capa de CD vazia, o calendário porta-retrato.

Mas nada. Nem sinal. A resposta de que precisava não estava ali.

Inquietou-se e levantou. Não conseguia permanecer parado nesse estado, suas pernas não lhe obedeciam. Enquanto vagueava pelo quarto, seus dedos ágeis acenderam o cigarro e levaram-no à boca trêmula. O trago veio doce. Aquele veneno que inspirava percorreu todo o seu corpo, e a fumaça misturou-se à sua enegrecida alma. Quando abriu os olhos vermelhos, tudo parecia mais calmo. Um pouco mais tranquilo. Ele sentou-se e, pela primeira vez em meses de agonia, sentiu-se relaxado. Mesmo sabendo que a sesnação duraria pouco, que era apenas ilusória, paliativa, sentiu como se todas as preocupações tivessem abandonado a sua conturbada mente, levando consigo toda a sujeira contida nela.

A campainha tocou, trazendo os tormentos de volta. Victor levantou-se num susto. A única pessoa que conhecia este endereço não era nem um pouco bem-vinda. Lentamente, cruzou o pequeno sobrado e pegou um taco de beisebol, a única arma que possuía para se defender. As batidas voltaram, mais impacientes. Seus olhos vermelhos, vidrados no olho-mágico, sem coragem de aproximar-se.

- Victor?

Essa voz. Essa voz!

- Mônica?!

Ele abriu a porta num ímpeto, esquecendo qualquer medida de segurança. Poderia haver um exército, ou quinhentos mercenários atrás dela, mas a sensação de... De rever, de observar, de simplesmente ouvir a voz dela supera qualquer risco!

- Amor! Mônica, eu senti tanta saudade! Foram anos, anos, tentando te encontrar! Depois da Grécia, eu achei que nunca mais ia te ver! Foram quantos? Três? Quatro anos! Foram quatro anos sonhando com você, sonhando em te encontrar...! Eu pensava que você tinha morrido, mas...

- Victor... - ela parecia hesitante.

- Eu tinha esperanças de que você chegaria! Não sei como, não sei onde, mas sabia que você ia me achar!

- Victor, me escuta...!

- Você soube, Mônica? Estão tentando me acusar de algo que eu não fiz! Estão tentando me incriminar...! Mas eu nunca sequer cheguei perto daquele...

- Você está preso.

Os olhos do rapaz, mergulhados em desespero buscaram a resposta no olhar evasivo de Mônica, que lhe apontava uma arma enquanto tirava as algemas do bolso da calça.

- O quê? Não... Não...! Você não! Você também não, porra!

Rapidamente ela o algemou, e uma equipe à espreita entrou e o retirou dali. Mônica reentrou no pequeno sobrado e observou tudo ao seu redor. As paredes, a caixa, o tapete. A cômoda, os papéis, a cola Pritt. A cola polar, o grampeador, a caneta BIC. A tampa da garrafa de guaraná, a capa de CD vazia, o calendário porta-retrato. A sua foto nele. Grécia.

- Limpem tudo. - ordenou enquanto saía. "Para nunca
mais voltar" desejou.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

O Lápis e a Borracha

O lápis é inquieto.
A borracha, impaciente.
O lápis tenta criar algo de bom.
A borracha não lhe dá chance.
O lápis persevera.
A borracha simplesmente apaga.

- Assim como a nossa vida, tudo que começa, termina.

O lápis em meu punho experimenta, tenta, cria.
A borracha em minha mão seleciona, corrige, destrói.
O lápis, coitado, continua. Escreve, esboça e até gosta de uma, ou duas, ou nove linhas.
E a borracha, o mesmo faz. O limita, o questiona e o aperfeiçoa, fazendo-o dar o seu melhor.

O lápis viveria sem a borracha. Mas a folha ficaria meio suja... Cheia de marcas e riscos por todo lado.
A borracha também viveria sem o lápis. Mas não teria função... Se não houvesse lápis, não haveria o que ser apagado.
O lápis, quanto mais cria, menor fica; assim como a borracha que, quanto mais destrói, mais diminui.

E tudo o que o lápis escreve e a borracha apaga, deixa a sua marca no papel.
Sua história no papel - que absorve rapidamente as marcas deixadas sobre si.

Mas e esse texto escrito pelo lápis? Começado pelo lápis?
Será apagado pela borracha? Terminado por ela?

Não. Pois o que fica no papel é marca.
Mais fraca, mais forte, é marca.

- Assim como na nossa vida, entre o começo e o fim, há marcas que ficam.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Me Desculpa

Eu não consigo controlar. Não é algo que se controle, mas eu confesso que não me esforço nem um pouco para tentar te esquecer. Eu gosto de te amar. Gosto de pensar em você, de esperar a sua mensagem no celular... Eu acho que amo você. E achei que dessa vez seria diferente. Que dessa vez o meu amor seria retribuído, que eu finalmente tinha encontrado alguém para amar e respeitar. Achei que nos seus lindos olhos e nas bochechas ruborizadas encontraria o amor recíproco. Mas só encontrei o amor. Não a paixão, o amor. Esse que dói e não se sente, esse contentamento descontente e essa dor que desatina sem doer. Mas não. Não foi dessa vez, como não foi em tantas outras. Eu nunca me senti tão perto de alcançar o amor. Nunca o senti tão próximo, como se ele estivesse aqui e de repente, não mais que de depente, do riso fez-se o pranto e a lágrima manchou o papel. De repente, não mais que de repente, parte da esperança se quebra e se resigna. Parte da perseverança se esvai e me abandona. Parte da emoção tão confiante se questiona e reflete.
De repente, não mais que de repente, te amo mais do que nunca.


[puramente ficcional]

quarta-feira, 24 de junho de 2009

AFOGA-ME

Prenda-me a respiração
E não a solta novamente.
Joga-me na cara.
Tudo.
Purifica-me.
Sempre.
Sufoca-me em súplicas,
Afoga-me em desespero.
Mata-me de vontade.
Mata-me de arrependimento.
Afoga-me.
Afoga-me de amor
Afoga-me de perdão.
Afoga-me implorando-me...
Faz-me sentir amado...

Era noite

Era noite e seus passos eram solitários. A rua não fazia barulho. O silêncio ecoava infinitamente. A neblina caía densa sobre seus ombros razoavelmente agasalhados. Era noite e não era nada demais. A lua pousada no céu; as estrelas alinhadas ao nada; a escuridão sentia o frio. E só.

Era noite e seus passos continuavam solitários. E seus olhos encaravam a rua pelas lentes translúcidas. E sua boca tremia charmosamente. As casas estavam apagadas. Os postes, porém, acesos. Era noite e a pouca iluminada rua, levava seu transeunte a lugar algum, mas a algum lugar.

Era noite e seus passos agora eram trêmulos. E mais nada havia a ser dito. E seu punho cerrado estalava. E seus olhos fixavam-se no nada. Era noite e árvores pressentiam em sua sabedoria que algo estava errado ou fora do comum. Que algo aconteceria - e pela noite, não haveria de ser algo bom.

Era noite e seus passos cessaram. E assim continuaram até que noite ainda fosse.

É um mistura de emoções.

Um amálgama.

Acho que nunca, na minha vida inteira senti tanta emoção junta. E o mais estranho é que, ao mesmo tempo em que sentia todas essas fortíssimas emoções, parecia estar inerte, fora de mim, longe do meu próprio corpo. Ao menos, naquele momento eu gostaria de estar dessa maneira, só não foi tão possível - a projeção astral só funciona no Charmed.

Primeiro, eu me senti um imbecil. Um grande imbecil. Elementarmente imbecil. Depois veio a raica. De mim, do meu redor, do mundo, do asfalto, de tudo o que via pela frente. Queria quebrar o maior número de coisas possível... Espatifar aquela vidraça do Banco do Brasil - segundo uns, crime federal - com a minha garrafinha cheia de mate quente... Eu queria... Sei lá, voltar ou acelerar o tempo, qualquer coisa que me fizesse negar o presente (aquele presente, agora, passado).

E aí, desabei. Foi fácil. Apenas isso. Nem melhor ou pior, fácil.

Depois dormi.

E me recompus.

Demorou um pouco, ok, mas recompus. E percebi que era só isso.

Só isso..

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Eu Aceito

Pela primeira vez em tempos, eu aceito o que estou sentindo. Eu reconheço e aceito toda essa paixão que ainda não se pode chamar de amor. Demorou bastante; vários momentos preciosos foram perdidos, mas agora eu aceito. E é até gostoso me sentir assim... Pelo menos, eu nunca fico sem pensar em nada. Quando estou sozinho com os meus pensamentos, ela vem me fazer companhia. Mas deixou de ser gostoso, quer dizer, ainda é, mas não plenamente. Esses momentos gostosos são alternados. Às vezes – e isso é meio freqüente – me bate uma dorzinha... Uma dor que sentimos quando queremos alguma coisa (ou pessoa) e não a conseguimos.
É natural. Principalmente quando se trata de sentimentos.
Então, eu só queria dizer que eu aceito o que eu to sentindo, e até gosto. Assim como gosto de você, gosto desse sentimento que faz a lapiseira deslizar por esse papel, revelando em palavras uma antiga confissão. Confissão muda, calada, silenciosamente entendida ao luar, à música e ao vento frio.

E além de aceitar, eu respeito.
Respeito a sua escolha, o seu medo, o seu tempo e o seu coração. Sempre respeitarei e desejarei o melhor para você – por favor, acredite nisso... E mais importante: estarei sempre aqui, se você precisar.
Como amigo e como você quiser.


Matheus Marques

Busco-te

Busco-te enquanto tento me salvar. Nos meus pensamentos, sentimentos e outros ‘entos’. Te encontro, mas desencanto. Quebro-me. Vejo-te com ele e me sinto entristecer. Hoje, já menos que ontem... Foi difícil... Me controlar pra não falar com você. Mas preciso me acostumar ao fato de você ter uma escolha e obedecer-lhe.

Instantaneamente, é quase uma vertigem...

A sensação vem tão intensa que você não sabe o que fazer. Pensa em virar o rosto e engolir a dor. Assim. Rápido e indolor. E ao mesmo tempo, quer olhar, admirar, sonhar um pouco...

Nada parece fazer sentido...! Nem você mesmo, nem o mundo, nem a noite ao luar e a música ao vento frio. Acho que pra você não foi nada demais, mas pra mim foi, além de tudo, uma confissão. Muda. Calada. Silenciosamente entendida. Um gesto fala o que mil palavras tentam e não conseguem expressar.

Calado estou e calado ficarei. Assim tentarei, é claro. Se hoje foi prova, o resto dos dias será tortura, mas lutarei, prometo. Aliás, por que sofrer gritando se podemos o fazer calado? Sem expor a nossa dor, escondendo o pranto atrás do sorriso sofrido? Não quero causar pena, sabe, apenas...

Alegria! Assim começo este último parágrafo. Com a alegria do teu sorriso, a luz do teu cabelo, e a alegria também do meu ser. Desse meu ser estranho e amante e sofredor e boêmio, inspirado pelo amor que tu me causas. Devo dizer que o amor, além de muito inspirador - este é o segundo texto que produzo por tua causa - me alegra. E se o amor normal já me coloca o sorriso nos lábios e as palavras no papel, o - oficiosamente - platônico também e mais ainda! Sabe, eu não quero sofrer por amor; apenas viver (sem pleonasmos).


Matheus Marques

segunda-feira, 16 de março de 2009

A Impetuosa

Acho que tudo terminou como devia terminar; como havia começado. O Pedro me perdoou. Eu surtei naquele dia, eu não sei o que aconteceu... Ao mesmo tempo em que me sentia atraída pela Laura, o Pedro mexia muito comigo... Não só sexualmente, era inexplicável.
A gente se separou, agora. Há pouco mais de um mês, eu acho. Não era mais pra acontecer, a nossa história de amor acabou, sabe? Não tem mais por que continuarmos juntos... Não temos que forçar, sabe? Não temos o que forçar! Já não há mais amor. Não esse amor. Houve desejo, até paixão, mas amor, não. Acho que o amor que sinto, agora, por ele, é mais fraternal... Eu não sei, são os tipos de amor, sabe? Eu não quero passar a minha vida com ele, mas sei que haverá momentos em que precisarei dele! Sabe? Pra conversar, tomar um café, falar besteira até de madrugada... É um amor diferente.
Quanto a Laura, eu me sinto um pouco culpada... Não que eu pudesse controlar, ou suprimir o que eu sentia pelo Pedro. Eu acredito que o homem é impetuoso, e tem que ser assim, sabe, pra ser sincero consigo mesmo, entende?! Não se trata de descontrole, mas de atender desejos do seu próprio corpo, do seu próprio eu. A pessoa que suprime os seus desejos não é ela mesma. E essa não sou eu. O que eu senti pelo Pedro, quando eu estava com a Laura, foi o mesmo que eu senti pela Laura, quando estava com o Pedro, alguns anos atrás! Impulsos. Ímpetos. Hoje eu vejo dessa forma.
Eu sinto falta dela. Da Laura. Parece clichê, mas realmente só valorizamos aquilo que temos, que sentimos, ou que temos alguém sentindo por nós, quando o perdemos. Acho que foi uma troca. Ela virou a minha vida de ponta cabeça - mas de um jeito bom. E eu virei a dela também - de um jeito melhor ainda...
Foi uma troca que me fez refletir e, com certeza, crescer bastante. É a universalidade, sabe? O amor a paixão o desejo... É só a universalidade...

Matheus Marques

quarta-feira, 11 de março de 2009

O Machucador

Eu acho que é só sobre o amor. A universalidade, sabe? E os tipos de amor. Eu percebo, agora, o quanto eu amo a Laura. Ela mexeu tanto comigo, como nenhuma outra mulher... É tão estranho isso! Eu nunca achei que me apaixonaria. Ainda mais pela Laura! E eu ainda a mandei tirar o bebê... Eu acho que a gente sabe tão pouco da vida que ignora coisas simples como o amor e a felicidade pura e plena. O homem brinca de viver, e vive de machucar! Mas não brinca de machucar. Ele machuca mesmo e fere fundo... Fundo demais. A minha vida sempre foi machucar e ser machucado. A Raquel me machucou e eu a machuquei; a Laura me machucou e eu tentei, mas não consegui machucá-la. E não, não foi por causa do meu filho; por mim, ela tirava aquela criança, Mas não, ela não quis, preferiu fugir. Fugir de mim, da Raquel, da minha vida e da minha culpa. Mas agora eu aprendi: a vida é um carrossel de tristezas, alegrias, dúvidas e emoções. E a gente passeia por ela, subindo e descendo nas ondas nas nossas dores e virtudes. Um carrossel desgovernado que acelera cada vez mais, enquanto aquela música nos ensurdece e as luzes nos cegam até ele nos cuspir e arremessar dali violentamente. (pega uma arma) Agora eu aprendi: o meu carrossel já desgovernou há muito tempo. (se mata)

Matheus Marques