terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Seisamores

O amor universal.
O amor é universal?
Deveria ser?
Em que sentido?
Por quê?

O amor e a beleza.
Qual a ligação?
Dependência?
Submissão?
Conveniência?

O amor e o sexo.
Qual sexo?
Importa?
O... Sexo...?
Ahm... Sexo...!

O amor ingênuo.
Ainda existe ingenuidade?
E quanto ao que se sente?
Indecisão...?
Quer dizer, é uma decisão?!

O amor platônico.
Seria falta de coragem?
Seria sofrer intencional?
Seria sofrer?
Seria intencional?


O amor recíproco.
Que maravilha!
É uma delícia!
Ingenuamente!
Platonicamente...!

Matheus Marques

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Turbilhão


Ele olhava pelo lado de fora da janela. Fingia a calma; fingia a tranqüilidade. Era um vulcão por dentro. Não de lava, de... Ahm, deixa pra lá...
O turbilhão mental mais intenso que de costume. A impaciência e inquietação... O relógio contando os segundos bem alto ao pé do seu ouvido, torturando-o com aquele melódico tic-tac.
A espera fazia a sua cabeça girar. Apesar de não saber bem o que esperar, esperava. Talvez a companhia, a compreensão, a identificação com esse... Com toda essa... indecisão, essa dúvida presente no ar! E sufocada pelo mesmo, ou quem saber, pela sua ausência. Ele percebera o nítido cair do sol embalado pelo covarde tic-tac que o remetia ao seu próprio lugar e à sua própria solidão...
Solidão de pessoas, pois de pensamentos, não havia do que reclamar... Era quase uma brain storm... Era incontrolável... Em todos os momentos vagos de qualquer assunto, revia o fato, a surpresa, o inesperado, e talvez até a coincidência.
Meio difícil assimilar o inesperado.
Mas ainda assim, essa brain storm gerou uma série de reflexões, alcançado certas boas conclusões...

Talvez se trate apenas de universalidade.
De um olhar mais universal. Menos racional e mais emotivo. Será que há tantas barreiras assim no mundo contemporâneo? A nossa contemporaneidade tem, realmente, nos inibido a sensibilidade? Ou será que a culpa seria dos nossos, digamos, padrões e comportamentos pré-estabelecidos?

" A nossa contemporaneidade nos enlouquece. No amor então... Surgiram situações tão sem modelo anterior... Que o melhor é não entender. Buscar soluções novas, munidos de um imenso e desmedido amor."
(Domingos Oliveira)

(Não tentem entender, esse é um insight meio inside)

Matheus Marques

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Não só o Amor - Parte 3


CENA 8 – Pedro em casa. Ele está arrumando umas telas. Fica, durante algum tempo olhando para uma tela de Laura.

PEDRO – Por quê? Por que você apareceu na minha vida da forma mais louca possível? Por que você demorou tanto? Como você mexeu comigo... Como você me fez perder o controle...! Laurinha... Por quê...?

Ele encosta a tela na parede, e continua a arrumação. Vê a sua camisa xadrez no chão. Pega-a para colocar no lugar e a pílula cai no chão.

PEDRO – O que é... A pílula? A pílula da Raquel?! Ela não tomou?! Caralho, o que ela ta pensando?! Meu Deus...! E se ela... Não, Pedro... Não... Isso não vai acontecer... Ela não pode estar grávida, não pode! Ela não ta... Piranha! (pega o telefone, tenta falar com ela, mas não consegue) Porra! Meu Deus, era o que me faltava agora... Mulher louca...!

Toca a campainha. Pedro atende. É Raquel, com olhos cheios d’água e um sorriso no rosto.

RAQUEL – Eu tenho que...
PEDRO – Você pode me explicar o que é isso aqui?! (mostra a pílula).
RAQUEL – Pedro, eu...
PEDRO – Como você faz isso comigo?! Você ta maluca?! Você quer dinheiro?! O que você quer com isso?!!
RAQUEL – Eu te amo...!
PEDRO – Mas eu não te amo!
RAQUEL – Mas vai amar!
PEDRO – Você ta maluca?! Você escuta o que você ta falando?! Se você me ama o problema é seu, mas você não pode colocar a minha vida em risco dessa forma!
RAQUEL – Você acha que é isso que eu quero?! Acabar com a sua vida?! Eu te amo, Pedro, eu quero passar a minha vida com você...!
PEDRO – Você ta maluca! Sai da minha casa! Sai daqui, Raquel, você enlouqueceu!
RAQUEL – Você vai me amar, Pedro... Você tem que me amar! Eu só queria um filho seu...!
PEDRO – Um filho meu pra que, Raquel?! Pra dizer que é seu?! Pra dizer que você tem alguma coisa minha?!! Um substituto do meu amor?! PRA QUE?!!
RAQUEL – PRA VOCÊ ME AMAR!
PEDRO – EU NÃO TE AMO! E NÃO VOU TE AMAR! EU ME RECUSO A TE AMAR!
RAQUEL – Ah, é?! (mexendo na bolsa, a procura dos exames) Então vai amar o seu filho!



No fundo do palco, a luz se acende e está Laura posando. A cena de Pedro e Raquel para, congela na penumbra.

LAURA – Dessa vez você vai conseguir terminar, Henrique, eu prometo. Na verdade, eu já tomei uma decisão sobre toda essa montanha-russa... É estranho como coisas simples podem mudar completamente a nossa vida, e o nosso pensamento... Como o amor pode nos tomar completamente (põe as mãos na barriga)! Hoje eu vejo que há muitos tipos de amor...! Eu acho que amo essa criança como nunca amei ninguém... É um amor diferente, um amor que você dá sem esperar nada em troca, mas sabe que terá. Eu já tomei a minha decisão...

A luz se apaga, e Laura volta a sumir. Raquel entrega o exame. Pedro o pega, e fica estático. Começa a esboçar reações de muita raiva.



PEDRO – Isso não é verdade...! NÃO É VERDADE! É mentira, você está fingindo! Você vai fazer outro exame!
RAQUEL – Quantos mais você quer que eu faça? (Pega uma sacola em sua bolsa) Eu fiz seis, Pedro! Seis exames! Eu to grávida! (mostra os outros exames a ele).
PEDRO – Você fez de propósito! Você acabou com a minha vida! Sua infeliz! Como eu vou sustentar um filho, Raquel, eu sou pintor, não sou milionário!!!
RAQUEL – Nós vamos criá-lo, meu amor... Você vai ver, ele vai ser a sua cara!
PEDRO – Como você faz isso com a Laura?! Ela te ama!
RAQUEL – Eu não quero falar nela...
PEDRO – Quando eu te amava, você me trocou por ela, e agora, que ela te ama, o que você faz? Você quer trocá-la por mim! Você é uma destruidora, Raquel! Uma destruidora infeliz!
RAQUEL – Pode me chamar do que quiser... Mas eu ainda tenho o seu filho, Pedro. E uma hora você vai ter que me amar...
PEDRO – (maquiavélico) Só porque você tem um filho meu?
RAQUEL – Uma criança pode mudar muita coisa, Pedro. Você vai ver.
PEDRO – (maquiavélico) Até agora eu não senti muita coisa mudar... A não ser a barriga da Laura. (Raquel fica estática) É isso aí, Raquel. Lembra do incidente? Da precaução? Por que você acha que agora eu tenho um estoque de pílulas do dia seguinte?! Algumas coisas fogem do controle, Raquel...!
RAQUEL – Não... Não! A LAURA NÃO! PORRA!
PEDRO – Ela está grávida, Raquel! Ela tem um filho meu! MEU! Você não é nada especial, Raquel! É UMA DESTRUIDORA! UMA INFELIZ! E quer saber? Foi muito melhor com ela...
RAQUEL – CRETINO!!!

Raquel parte pra cima dele, aos gritos e em prantos.

RAQUEL – (enlouquecida) Seu cretino! Seu viado! Eu te odeio! Eu te odeio!!! (Pedro a empurra para longe) Você vai me amar! Você vai ver! VAI ME AMAR E EU NÃO VOU TE QUERER MAIS!
PEDRO – Sai da minha casa, sua maluca!
RAQUEL – NÃO! Eu quero viver aqui, te amando, te odiando, meu Pedro!! Eu quero acordar do seu lado a cada manhã! Eu quero posar pra você todos os dias! Eu te perdôo, querido, te perdôo, ela te seduziu não foi?! NÃO FOI?! (vê o quadro de Laura) Foi esse o quadro que você pintou quando ela deu pra você?! (pega o quadro)
PEDRO – Larga isso...
RAQUEL – Ah, foi esse...! Olha, como ela está linda...! Como está austera, imponente! Se oferecendo pra você como uma puta! Uma vadia! Pois é isso que ela é, uma piranha! PIRANHA!
PEDRO – Para!!! Larga isso!

Pedro corre atrás dela. Ela se esquiva, pega um estilete, sobre a mesa e começa a furar o quadro na barriga.

RAQUEL – (enlouquecida) Olha o que eu faço com ela, Pedro! Com a sua queridinha Laura e o filho de vocês! Olha, Pedro!!
PEDRO – PARA!

Pedro dá um tapa nela, que cai no chão, chorando. Pedro pega o quadro e olha para ele entristecido.



A luz do fundo volta a se acender. Aparece Laura, ainda posando.

LAURA – Você pode colocar um sorriso, Henrique? Como uma recordação...? Eu queria que você desse esse quadro à Raquel. Você se importa? Eu o compro de você, o preço que for. Mas quero que ela tenha esse quadro. O último.

A luz volta a iluminar Pedro e Raquel, mas não omite Laura.



PEDRO – Sai daqui agora.
RAQUEL – (em prantos) Como você faz isso comigo...?!


LAURA – Esse é o meu último quadro, Henrique. Eu vou embora... Eu percebi que durante toda a minha vida eu fui coadjuvante na história dos outros. E agora, com esse filho, eu vou começar a minha história, entende? O Pedro me magoou muito, tentando me fazer abortar... Foram alguns anos de amizade já que ele sempre foi muito ligado à Raquel... Por isso, eu acho que eles ficarão bem. O dia em que eu posei pra ele e acabou rolando... Foi bom. Eu me senti amada, sim, de verdade. Mas eu acho que não adianta... Eu amo a Raquel, e sei que ela ama o Pedro. Já está bem nítido... São as coisas que não podemos controlar, ou esconder.


RAQUEL - Eu te amo, eu sempre te amei, Pedro... Desde antes de conhecer a Laura, ela... Foi só uma distração, um hiato no meu amor por você...! Eu te amo... (chora, arrependida)
PEDRO – Sai da minha casa...
RAQUEL – Eu te amo...! (para si) Deus! Por que...? Por que sou eu que te amo e ela que vai ter o seu filho...?! Por que ela...?! Por quê?!
PEDRO – O que? Ela? E você...?
RAQUEL – (chorando muito) Eu? O que sou eu pra você...? Agora se importa comiga...?
PEDRO – Para com essa merda, você ta ou não está...
RAQUEL – Eu não to grávida, Pedro! Era isso o que você queria ouvir?! Os exames não são meus... Eu só queria me sentir amada por você... Tem coisas que não podemos controlar, Pedro...
PEDRO – A loucura.
RAQUEL – Me perdoa... Eu te imploro, me perdoa...


LAURA – Eu a perdôo. Não sei se ela me perdoa por ter mexido com o coração dela daquele jeito... Com a sexualidade, com o amor dela... Eu não sei se ela me perdoa, mas eu vou sempre amá-la. Acho que ela e o Pedro. O amor dele me tocou de uma forma...! Inesquecível... São os tipos de amor, entende? O amor é universal, Henrique... E é lindo... Apesar do que o Pedro me fez, eu ainda consigo amá-lo... Apesar da Raquel não me amar mais, ou... Até mesmo ter brincado comigo – ela sempre amou o Pedro – eu ainda a amo. E amo, além de tudo, esse filho. Esse filho, motivo de tantas discórdias, de mexer tanto com as nossas vidas, eu não consigo odiá-lo... Não consigo não gostar dele... Tudo seria tão mais fácil se eu não o amasse... Mas seria, certamente, mais errado... Eu o vejo como a minha solução. A coragem que eu nunca tive. Agora eu to pronta, Henrique. Pra recomeçar do zero. Levando nada, a não ser um desmedido amor. Ficou pronto? Deixa eu ver.

Laura caminha em direção ao proscêncio, a luz abaixa e ela sai.

PEDRO – Eu vou ver a Laura.
RAQUEL – Eu vou com você.
PEDRO – Não.
RAQUEL – Por favor, Pedro. Eu to arrependida... Eu te amo, te amo demais... Eu perdi o controle. Me perdoa, por favor.
PEDRO – Eu to indo. (sai).
RAQUEL – Pedro...! (sai atrás dele).



CENA 10 – Laura vestida, em seu apartamento com sua mala ao seu lado.

LAURA – Pronto. É melhor eu ir logo, não estender mais as despedidas. (ela olha o quadro, com carinho) Ficou lindo. O Henrique é um gênio. E foi uma graça ter me dado de presente. Bem, é hora... (pega um pilot e escreve sobre a sua barriga, na pintura) “A dois dos meus maiores amores. Cada um no seu tipo. Eu amo vocês, sempre amarei e sempre amaremos... Eu, Laura e... E, se for menino, Pedro, ou, se for menina, Raquel. Há coisas que não podemos controlar: o destino.” (vai colocar o quadro no lugar, mas se lembra de algo. Escreve) Pronto.

Ela deixa o quadro, pega sua mala, olha por última vez o apartamento e sai. Faz um percurso pelo palco, desce para o público, como se estivesse saindo do apartamento. Não chega a sair de cena, entram Pedro e Raquel, por um outro lugar, como se não cruzassem com Laura.

PEDRO – Laura? Laura?!
RAQUEL – (vê o quadro, muito emocionada) Pedro.
PEDRO – (chega perto e lê o recado) “A dois dos meus maiores amores. Cada um no seu tipo. Eu amo vocês, sempre amarei e sempre amaremos... Eu, Laura e... E, se for menino, Pedro, ou – se for menina – Raquel. Há coisas que não podemos controlar: o destino. P.S.: Pedro, apesar de tudo, tudo o que a Raquel fez, te abandonando, ficando comigo, saiba: ela sempre o amou. E sempre amará. Há coisas que não podemos controlar.”.
RAQUEL – (muito comovida) Laura...
PEDRO – (abraçando Raquel, paternalmente) Ela fez a escolha dela.
RAQUEL – A escolha certa.
PEDRO – Vamos embora.
RAQUEL – Espera um pouco. Deixa eu me despedir...

Raquel senta-se no sofá, num lado do palco, chorando e sorrindo, olhando o quadro. Pedro acende um cigarro, e chora em silêncio. Laura, no outro canto do palco, chora alegremente, com as mãos na barriga. Enquanto isso, escuta-se uma gravação com as vozes dos três em off, e a luz cai lentamente, assim como a cortina se fecha.

PEDRO – Há coisas que não podemos controlar...
RAQUEL – O amor...
LAURA – Não só o amor...
RAQUEL – O instinto...
PEDRO – Não podemos controlar...
RAQUEL– A loucura...
LAURA – A saudade...
RAQUEL – A dor...
PEDRO – Não só o instinto...
LAURA – Não podemos controlar...
PEDRO – O pesar...
RAQUEL – Não só a saudade...
LAURA – O destino
PEDRO – Não podemos controlar...
RAQUEL – A sorte...
PEDRO – A morte...
LAURA – O desejo...
RAQUEL – Não podemos controlar...

Fim


Matheus Marques

Não só o Amor - Parte 2


CENA 5 – Enquanto a contra-regragem arruma o cenário do restaurante, ouve-se Laura e Pedro ao telefone, ambos em off;

PEDRO – Precisamos conversar...
LAURA – Você contou à Raquel? Eu acho que ela já desconfia, não é possível...!
PEDRO – Eu não falei nada, Laura.
LAURA – Ela está muito diferente, Pedro! Mal fala comigo, anda tão distante, diferente... Ontem nós tivemos uma discussão horrível, depois que ela voltou da... Da saída de vocês...
PEDRO – Quanto a isso, me desculpe, Laura, mas você estava posando, e...
LAURA – Tanto faz... Onde podemos nos encontrar?
PEDRO – Vamos naquele café, que costumávamos frequentar...
LAURA – Ok, 14h00, a Raquel vai estar trabalhando.
PEDRO – Ok.

Já ao final da ligação, eles já vão chegando. Primeiro Pedro, depois Laura.

PEDRO – Oi.
LAURA – Oi.
PEDRO – Como você ta?
LAURA – Como você acha que eu to? Preocupada; preocupadíssima! A gente precisa contar a Raquel...
PEDRO – Eu tentei, Laura, mas não consegui.
LAURA – O quê?!
PEDRO – Ontem, na verdade, eu a chamei lá, para contar a verdade.
LAURA – Você me prometeu, Pedro!
PEDRO – Laura...
LAURA – Caraca, eu não posso mais confiar em você, é isso?! Porra, como você faz isso comigo?!
PEDRO – Calma, ta?! Eu não contei nada!
LAURA – Mas tentou! Mas ia contar!
PEDRO – O importante é que eu não contei! (pausa, um pouco soturno) E talvez nem precisemos contar...
LAURA – Você ta maluco? A minha barriga ta crescendo, Pedro, temos que contar...
PEDRO – (tira um papel do bolso) Olha, aqui está o telefone de um cara, o nome dele é Mauro. Ele tem uma clinicazinha em casa, e consegue resolver isso aí. É só você ligar pra ele e marcar o dia, eu já acertei tudo.
LAURA – Você quer que eu aborte?!
PEDRO – Eu quero que você seja feliz. Que não acabe com a sua vida, e com a sua relação da Raquel por causa disso.
LAURA – Disso?! O seu filho é “isso”?! Eu achava que te conhecia, Pedro.
PEDRO – Não faz disso tudo um drama, Laura. Você quer tirar esse filho tanto quanto eu.
LAURA – E desde quando você se importa com o que eu quero?! Você só quer tirar esse peso dos seus ombros, do seu bolso! Você é um covarde...

Ela se levanta, ele a segura pelo braço.

LAURA – (entre dentes) Tira a sua mão imunda do meu braço, seu covarde assassino...! (ele a solta, e se encolhe um pouco na cadeira) Na hora de me comer, é fácil, mas e agora?! (se aproxima dele) Eu te desprezo, Pedro. Pode ficar tranqüilo que o meu filho não vai ter a vergonha de conhecer o pai! (Sai.)

PEDRO – A conta, por favor.

Blecaute.



CENA 6 – Raquel está na rua. Pode estar parada em algum lugar, encostada, talvez na frente do palco. Está com o celular na mão, esperando uma ligação. Um pouco ansiosa. Toca seu telefone.

RAQUEL – Alô. Oi! Isso, tava esperando você ligar. Aham, já to aqui em frente. Vai demorar um pouquinho? Tudo bem, eu espero. É muito importante pra mim. E aí, você fez o exame? Ahm... Que merda, hein...! Olha, às vezes, esses de farmácia podem dar errado. Ah, cinco... É, uma merda... Mas você vai tirar? Que bom, corajosa, você! Eu acho que você fez o certo, eu sou super contra o aborto... E além do mais, é muito perigoso...! Mas então, to aqui embaixo, quando você tiver chegando me avisa... Ah, então, já ta pertinho. Olha, vou te esperar ali dentro porque ta meio frio, só vou passar na farmácia antes, e comprar mais um exame pra você. Só por desencargo de consciência... Ta bom, Tekinha, beijos!

Raquel desliga o telefone e sorri maliciosamente.



CENA 7 – Laura posando.

LAURA – Desculpa por aquele dia, Henrique. E obrigada pela ajuda. Você é um grande amigo... Hoje eu conversei com o Pedro. Quer dizer, eu tentei conversar... Ele quer que eu aborte. Mas eu não tenho coragem, Henrique...! Sabe, é uma vida, dentro de mim. Eu sei que está bem no início, mas ainda assim é uma vida, e uma vida criada por mim! É responsabilidade minha... E, sabe, eu acho que to gostando da ideia de ser mãe... Sei lá, nunca pensei nisso, sabe... Mas acho que o mais importante agora, não é o que eu penso, e sim o que sinto. E sinto que essa criança vai me fazer feliz, Henrique. Acho que agora, eu, ela e a Raquel, podemos constituir uma família, sabe? Na verdade, eu ainda não falei com a Raquel, não sei como ela vai reagir, principalmente pelo fato de o Pedro ser o pai. Ai, Henrique... Às vezes, eu fico feliz, por ser mãe, mas penso na montanha-russa que vai virar a minha vida, com isso. É que não há solução, sabe? Aborto, nem pensar. Eu amo essa criança... E não é só o amor... Eu tenho princípios também...

Toca o telefone. Raquel no canto do palco. Ela segura algo em suas mãos, numa sacola.

LAURA – Eu... Posso? Ok. (pega e atende ao telefone) Oi, amor.
RAQUEL – Oi.
LAURA – Tudo bem?
RAQUEL – Tudo, olha, ainda ta posando?
LAURA – To sim, mas já ta acabando.
RAQUEL – Ai... Olha, passei aqui na casa da Teka, precisava pegar uns... Umas coisas, e agora, tenho que dar uma passada lá no Pedro.
LAURA – De novo, no Pedro?!
RAQUEL – Qual o problema? Ele é meu amigo!
LAURA – Calma, Raquel! É que agora, parece que você só quer ficar com o Pedro, sair com ele, e...
RAQUEL – Olha, eu preciso ir...
LAURA – Vamos sair hoje, Raq... Vamos num barzinho, uma música ao vivo...
RAQUEL – Sei lá... Tenho que ir.
LAURA – Eu te amo.
RAQUEL – Ta, tchau. (sai de cena).
LAURA – Tchau. (olhos marejados) Ela vai pra casa do Pedro. De novo, do Pedro! Meu Deus, Henrique...! Ela mal fala comigo, parecia uma estranha, no telefone... Eu não sei mais o que eu faço...! Eu vou ficar maluca, ela não gosta mais de mim, Henrique não é possível! (senta no sofá, começa a chorar) Desculpa, desculpa por acabar com a sua tela, mais uma vez, mas assim não dá! Eu vou surtar, Henrique! Ela não me ama mais... E... E ainda mais, me trocar pelo Pedro! Sabe... Ela já foi dele, uma vez. Quando eu a conheci, ela namorava o Pedro...! Será que eu fui só uma aventura? Será que eu fui só uma diversão, no caminho dela? Será que ela o ama?! Tem coisas que a gente não pode controlar... E que nos faz sofrer... O amor.

Blecaute.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Não só o Amor - Parte 1


CENA 1 – Está um homem num apartamento sentado diante de um espelho, ensaiando algo.

HOMEM – (ensaiando) Eu preciso te contar uma coisa... Na verdade, acho que já vinha acontecendo há algum tempo, eu achava que tinha superado, mas... (para) Ta uma merda, ela vai surtar...

No outro lado do palco, há uma mulher como se fosse entrar no apartamento do homem, mas ela também parece indecisa, ou ensaiando algo.

MULHER – Coragem, Raquel. Coragem... Você já está aqui, não pode ir embora... Foram anos, um pouco confusos, mas tantos, tantos anos vivendo na sombra... Não. É melhor continuar assim... Eu, ai... Eu... Ta frio aqui... É melhor ir embora...
HOMEM – Talvez ela reaja bem... Tanta coisa aconteceu nesse último ano... Talvez ela ache graça... É uma ironia tão grande... Ela não deve me amar... Não, não deve...
MULHER – (ensaiando) Era meio novo para mim... Uma experiência nova... Eu não tinha certeza se eu queria, mas ela fazia parecer tão bom... E, sabe, num sábado à noite, meio solitária, coisas acontecem... (começa a chorar).
HOMEM – Será que ela vem...? (espera impaciente) Essa espera toda, eu não agüento... (pega um cigarro, coloca na boca, acende e vai em direção à porta. Abre-a e vê Raquel chorando) Raquel?!
MULHER – (se assusta) Ah, Pedro...! (limpando as lágrimas) Desculpe, eu...
PEDRO – O que você faz aí fora? Você não ia bater...? Você está chorando...?!
MULHER – (entra no apartamento) Eu ia bater, é que... Entrou alguma coisa no meu olho...
HOMEM – (não acredita, mas não insiste) Claro. (fecha a porta) Tudo bem? (se aproxima).
MULHER – Tudo. (dá-lhe um abraço, mexe no cabelo dele) Você queria falar comigo?
HOMEM – Sim... Cigarro? (ela aceita, se aproxima, e acende o seu cigarro no dele) Como vai a Laura?
MULHER – Bem... Ela estava posando quando eu saí... Aparentemente, a maioria dos pintores – você deve ser a exceção – gosta de pintá-la em casa. Aí eu saio...
HOMEM – Não gosta de vê-la posando para os outros?
MULHER – Não gosto da maneira como eles a olham... Mas tanto faz, eu não tenho com o que me preocupar.
HOMEM – (para si) Será...? (para ela) Raquel, eu te chamei por uma razão muito importante e difícil pra mim...
MULHER – Pedro... Eu também preciso te falar uma coisa, eu... Eu preciso da sua... De... (ela está muito emocionada).
HOMEM – Eu vou pegar uma água para você.

Pedro sai. Raquel continua na sala e o segue com o olhar, bem emocionada. Ela pega uma camisa xadrez de Pedro sobre a mesa e a cheira. Ele entra com a água e a vê cheirando a camisa.

HOMEM – A Laura usou essa camisa durante a pintura... (ela recoloca a camisa sobre a mesa e pega a água) Então, Raquel, o motivo da sua visita. Olha, é uma coisa muito séria e delicada, até porque você é minha amiga, e ainda tem tudo pelo que passamos... Às vezes, as coisas fogem do controle. Tem coisas que a gente não controla...
MULHER – (se aproxima) O amor.
HOMEM – Não só o amor.
MULHER – (confusa) Hã...?
HOMEM – (embaraçado, e um pouco emocionado) Eu pensei que seria mais fácil, que não faria esse papel ridículo... (pega o copo d’água da mão de Raquel. Vai beber, mas está tão nervoso que engasga e derrama parte da água na sua camisa) Merda...

Pedro tira a camisa, mas ainda está molhado. Levanta-se e começa a tirar a água de corpo com as mãos mesmo. Raquel não tira os olhos do corpo dele. Começa a se segurar, sutilmente, na cadeira. Pedro percebe que Raquel o observa com desejo, estranhando.

HOMEM – O que foi...?
MULHER – Não só o amor...!

Raquel pula sobre ele e o beija alucinadamente.



CENA 2 – Laura sozinha no seu apartamento. Ela está num sofá, posando.

LAURA – Assim ta bom? Ok. Será que vai demorar muito? Eu acho que devo encontrar a Raquel mais tarde. Ah, ela ta bem. Quando eu to posando, ela prefere sair... Não gosta do jeito que vocês me olham... Fica com ciúmes... Ela está meio esquisita, sabe, Henrique? Ela não me olha mais como olhava, está meio diferente; eu fico pensando se ela sabe sobre o que aconteceu... Eu to com tanto medo... Eu não sei como ela vai reagir, quando eu contar, mas foi algo tão... Eu não sei, espontâneo... E foi completamente carnal, não houve sentimento algum! Sabe? Eu acho que amar é algo que você sente, é insuperável... E agora... (põe as mãos na barriga, emocionada. Levanta-se, num ímpeto) Ai, desculpa, Henrique, mas eu to tão nervosa... (começa a se mexer, agitada) A Raquel não vai me perdoar! O que eu vou fazer?! Meu Deus, eu preciso contar a ela, isso se o Pedro já não tiver contado! Mas ele me prometeu que me deixaria contar... Mas a Raquel anda tão estranha, será que ele já contou?! Ela já deve estar sabendo, Henrique, ela se distanciou de mim... Eu preciso contar, ela precisa saber pelos meus lábios, Henrique! MEU DEUS...! (começa a chorar, um pouco desesperada) Ela vai sofrer tanto...! Ela não merece isso, Henrique... Não merece! Sabe, não é só o amor, tem a culpa também...



CENA 3 – Apartamento de Pedro. Raquel está de sutiã, calcinha e a camisa xadrez de Pedro, que está sem camisa. Ela está um pouco afastada dele, como que com repulsa pelo o que eles fizeram.

RAQUEL – Eu não sei o que está acontecendo... Eu nunca agi assim, Pedro... E a Laura, coitada, não merece isso... Mas ao mesmo tempo em que eu tento me afastar de você, eu quero sentir o seu cheiro, mexer no seu cabelo...
PEDRO – (ele se aproxima, ela se encolhe) Raquel, isso é loucura... Você ama a Laura, vocês se merecem... Sei lá, você precisa suprimir esses instintos...
RAQUEL – Não é só instinto, Pedro. Assim como não é só amor... Tem muita dúvida no meio...
PEDRO – Eu entendo... (vai a uma gaveta e pega uma pílula do dia seguinte) Toma. Vou pegar um pouco d’água pra você.
RAQUEL – (olhando para a pílula em sua mão e para Pedro) Você parece bem preparado para os ímpetos ocasionais...
PEDRO – (off) Depois de certos incidentes, a gente aprende.
RAQUEL – Incidentes?
PEDRO – (voltando com a água) Imagine-se com tantas mulheres nuas, posando para você pintá-las. Há coisas que a gente não controla...
RAQUEL – (pega a água e fala sublime, olhando para ele) O amor.
PEDRO – É... (indo em direção ao quarto) Agora, toma logo isso que eu preciso dar uma saída. Você vai ficar ou...?
RAQUEL – Não, vou pra casa... A Laura já deve ter terminado...
PEDRO – Ok, vou trocar de roupa. E você devia trocar também, né...

Pedro sai. Raquel fica parada. Olha-se num espelho com aquela camisa. Sorri. Lembra-se da pílula, a pega, e pega o copo. Coloca um pouco de água na boca, e quando vai colocar a pílula, hesita. Engole a água. Nitidamente, está pensando se deve ou não tomar aquela pílula.

PEDRO – (off) Raquel, ta pronta?
RAQUEL – (instintivamente, coloca a pílula no bolso da camisa) Quase! (recoloca a sua roupa, joga a camisa no chão).
PEDRO – (entrando) Olha, eu vou a um vernissage em Botafogo, quer vir comigo?
RAQUEL – (indecisa) Ah... Ta. Mas deixa eu me ajeitar (puxa um estojo de maquiagem).
PEDRO – Raq, eu queria te falar, que apesar de tudo, sabe, dos altos e baixos do nosso relacionamento, da confusão toda, você ainda é uma irmã pra mim...
RAQUEL – Valeu, Pedro. Vamos?
PEDRO – Vamos.

Saem.



CENA 4 – Apartamento de Laura e Raquel. Laura está deitada no sofá, dormindo, e Raquel chega um pouco bêbada.

RAQUEL – Cadê a droga do interruptor...? (dá uma topada) Ai, merda!
LAURA – (acordando com o barulho) Raquel...?
RAQUEL – Oi, amor... Achei! (acende a luz. Está descabelada e desarrumada) Ai, que noite! (joga-se no sofá).
LAURA – Aonde você foi? Eu fiquei te esperando...
RAQUEL – (tirando o sapato, com um pouco de dificuldade) Eu fui a um vernissage com o Pedro em Botafogo e depois esticamos até um barzinho...
LAURA – Custava ter me avisado, Raquel?! Pô, eu fiquei aqui te esperando...
RAQUEL – (indica o sofá) É, deu pra perceber...
LAURA – (levanta-se irritada) Você queria o que?! Que eu ficasse até às 4:30 da manhã acordada, te esperando, enquanto você fica por aí com o Pedro?!
RAQUEL – Ih, ta de mau humor, eu vou trocar de roupa...
LAURA – (a segura pelo braço) Vai é o cacete, eu ainda não terminei!
RAQUEL – Me solta! (se desequilibra)
LAURA – Você ta bêbada?!
RAQUEL – E daí?! Você fica bêbada o tempo todo...!
LAURA – Mas só quando eu estou com você!
RAQUEL – Mas talvez eu não queira mais ficar só com você, e aí...?! (se afasta).
LAURA – Você não faria isso... Você não pode...
RAQUEL – Então, para de pegar no meu pé! (sai para o banheiro).

Laura fica nervosa. Senta-se, mexe no cabelo, inquieta. A ideia de perder Raquel é demais para ela.

LAURA – (falando sozinha; olhos marejados) Você só podia ter me avisado...

Ela se levanta, anda até a mesa, pega um cigarro e um isqueiro, vai para a frente do palco. Nesse momento, Raquel para na entrada da coxia e fica escovando os dentes, observando Laura. Esta, hesita bastante quanto a fumar, mas quando percebe que Raquel a está observando, acende o cigarro.

LAURA – (para Raquel, mas sem olhar para ela) Você só podia ter me avisado...

Raquel a ignora e volta para o banheiro. Laura se entristece e apaga o cigarro.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Sorrindo

Doce sonho...
Refúgio encantado que nos preenche a alma..
Vem!
Vem e ilude-me sem dó.
Afaga-me, acarinha-me e bate-me.
Quebra-me contra o espelho.
AFOGA-ME...
Cada vez mais no meu desespero.
E fascina-me com tua beleza divinal.
Fascina-me enquanto deteriora-me...
E assim, morro.
E te carrego em meu lábios...
Parto,
Sorrindo.
Matheus Marques

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Parem o Mundo, Quero Descer!


Muitas, inúmeras, incontáveis são as razões para se criar revoltas. Há motivos e motivos; alguns tão insignificantes...! E outros capazes de nos impor o silêncio a alma. Pode não parecer, mas o silêncio também é uma forma de revolta. Passiva. Talvez, até fraca. Mas, ainda, uma revolta. Há tanta coisa errada no mundo, que a maioria das pessoas se acostuma, se habitua, ou pior: aderem-nas!
Devemos pensar a nossa postura em relação a esse turbilhão de informações recebidas diariamente. Essa enxurrada nos acerta o tempo todo com uma força arrebatadora! Presenciamos corrupção, preconceito, morte, desrespeito e uma falta de ética absurda! Como pode o mundo estar assim? Como pode o homem esquecer-se completa e propositalmente de todos os outros ao seu redor? E como podem aquele que, entre tantos milhões, se propuseram a defender aquelas pessoas que lhes depositaram seus votos e esperanças, trair a confiança de seus mais fiéis apoiadores...?!
É nauseante.
Está tudo muito errado...
Percebe-se uma grande inversão de valores na sociedade atual; o dinheiro é cultuado e priorizado ao extremo! A vida, a ética, a humanidade...? Nada mais importa; o correto é visto como ridículo; o "esperto" é o desonesto; o "malandro" é o corrupto. Então o admirado será quem? O traficante, o assasino ou o estuprador?
A conformidade assola a grande maioria. Os erros? Nunca são de ninguém... Responsabilidade? Filha órfã. Culpa? Ninguém sabe, ninguém viu... E irá mudar?

Se esse apelo encontrar ressonância nas reflexões de vocês, já seria um começo. Sonho com o dia em que, junta, a revoltada e consciente população dará um basta. Quiçá.

Eu não vou naturalizar o caos!

sábado, 7 de fevereiro de 2009

A Filha do Vento

Todos os olhos estavam presos no mesmo transe. Amarrados, hipnotizados. Não conseguiam parar. Estavam viciados; arduamente viciados. Naquele corpo ardente, naquele bailar proibido.
Aquele chacoalhar invadia-lhes as cabeças, e perfurava-lhes as sanidades com os desejos mais escusos. A suave batida embalava-os lentamente em sonhos lúcidos, com quereres jamais previstos por seus donos.

* * *

Ela o fazia com uma naturalidade sem igual. Cada passo, cada movimento, com precisão e graça singular. Seu corpo era levado com consentimento. Guiado por um suave enleio, banhado pelo som de cítaras e tambores.
Enchia-me os olhos de lágrimas...

* * *

“Sinta-a. Conheça-a. Seja parte dela. Deixe-a ser parte sua.”
Apenas isso. Apenas esse era o pensamento...
“Mantenha sua mente livre. Não pense em nada. Apenas concentre-se. Concentre-se no sentir.”
Essas palavras seriam guardadas para o resto de uma vida. Vida desta mulher, que agora dançava e bailava divinamente para o encanto de seus expectadores – homens e mulheres.
As palavras herdadas de uma mentora agora já invisível, nebulosa: sua mãe.


Matheus Marques

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Perda ou Ganho?

É curioso o fato de acharmos que sabemos o que é melhor para nós, quando às vezes tudo isso não passa de uma auto-sabotagem. Podemos afirmar de pés juntos que somos os mais devidos autores das nossa decisões e atitudes. Sabem como é... A - ilusão de - onipotência do jovem ultrapassa os limites da sanidade e às vezes até do ridículo. Nos consideramos a cada ano que passa mais maduros, mais "pé no chão", mas continuamos a cometer os mesmos erros infantis e imaturos! Acredito se tratar de um ciclo. Talvez nunca acabe, e nos aprimoremos a cada minuto, de cada hora, de cada dia, de cada mês, de cada ano que passe. Talvez seja um fado chamado aprendizado. Vovó dizia: uma vez é erro, a segunda, é burrice. Mas será mesmo? O homem cansa de cometer as mesmas falhas tão elementares à sua vida. Será ele burro?

Mas, retornando ao foco do meu insight, acreditei durante toda a minha vida, usufruir de uma liberdade criativa, pessoal, expressiva... E acreditei ter certeza de determinadas coisas na minha vida, tais como metas ou sonhos, que me faziam abdicar de algumas vontades - de um jovem normal, como qualquer outro - para me dedicar ao que era mais importante para mim. Mas esse é o ponto:

Como eu saberia que aquilo era o mais importante para mim?

Sabe? Eu era - mais! - jovem, não sabia exatamente o que queria, ou até tinha uma idéia, mas algo muito vago para me aprisionar daquele jeito...! Hoje, eu acho que o meu conceito de liberdade era meio distorcido; eu era livre para escolher minhas opções, minhas prioridades, meus valores e tudo o mais, mas não percebi que esse conjunto me envolveu numa espécie de redoma ou prisão que não me permitia mais agir em prol de outras coisas... É claro, eu saía, estudava, mas tudo de uma forma secundária; meu foco não era nada disso. Eram apenas distrações. Foi duro, demorou um pouco, mas de repente, a ficha caiu: eu só falava de teatro! Nada mais saía da minha boca, ocupava a minha mente e o meu tempo. Deveria ser muito tedioso conversar comigo, pois o assunto que eu puxava era sempre o mesmo. Sim, eu conversava sobre o assunto que o outro propunha normalmente, mas se dependesse de mim, seria palco, textos, sinopses, coxia...

Talvez toda essa decisão e essa certeza do meu foco, do meu objetivo tenham me afastado das simples dúvidas e questões do cotidiano. Da indecisão, da insegurança, e de tudo isso que um jovem normal sente.

Então... Terá sido essa desventura uma perda ou um ganho?