segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Traição

- Meu amor...
-Não te perdoo!
- Por favor...!
- Não há perdão.
- Eu imploro!
- Não há por que...
- A ti eu choro!
- Não há razão.

- Tu me feriste
Fundo demais
Até minha paz
Tu demoliste...
O vinho do amor
Dado por ti,
No sangue da dor,
Se irá diluir.

- Imploro perdão,
Paixão e amor!
Não foi o que quis
Causar-te tal dor...
Até na raiz
Do meu coração
Eu sinto o teor
Da traição...!

- Não posso mais...
- Olha pra mim...
- É forte demais!
- Não faz assim...
- Só de te ver...
- Sou teu amor!!
- Me sinto morrer!
- De dor ou amor...?!

E se calou
Na noite escura.
E terminou
Na mão da loucura.
E adormeceu
A flor traíra
E se acabou
Com toda a ira.




quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Arpoador

Que vento gostoso batia-lhe contra o rosto! O olhar perdia-se no horizonte. Ligeiramente, não sabia para onde olhar. A todos os seus lados, o belo exibia-se com suavidade e intensidade, combinação própria da natureza. Por um momento, fechou os olhos e preferiu apenas escutar o barulho do mar. A omissão da visão aumentar-lhe-ia a capacidade de sentir. O mar, o calor das cores, o frio do vento, a curva das pedras retorcidas aos seus pés, e o seu próprio desejo que jazia latente, até então. Ao seu ouvido, as ondas batendo na orla transfiguravam agradáveis melodias, cujas letras formavam-se no coração do rapaz.

Esquivando-se dos elementos alheios, ele decidiu voltar-se a um diálogo mais concreto. Abandonou sua reflexão e caiu no diálogo. Sim, diálogo, já que não estava sozinho. Junto a sua (absoluta?) companhia, envolveu-se num papo que não acabaria mais. Viajaram a âmbitos distantes, como preferências, bobagens, Platão, filosofia e tal... Quem diria, hein? O sol caindo, palavras sendo trocadas, intercaladas, obviamente, por risos, e certa dificuldade em achar o caminho de volta. Talvez devessem tomar uma lição com João e Maria para a próxima vez...

A neblina da orla adensava-se. A noite já havia caído. Era hora de emergir daquele universo infinitamente restrito, pelo menos por enquanto. Seguiram seus passos por onde haviam chegado, refizeram o trajeto, e o rapaz deu um vago e silencioso adeus ao recém descoberto local.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Ainda quero

Eu ainda quero a sua boca, sabia? Não sei bem a razão, mas quero. Já quis mais... Bem mais. Não sei se já não quero, exceto a boca. Acho que é mais uma questão de provar toda essa paixão que percebo em alguns momentos da sua vida, entende? Por mais estranho que possa parecer associar paixão a você - não entenda isso ofensivamente, ok? - acredito nessa sua paixão latente. Das coisas que diz, que já relatou. Não sei mais do que. Já nem sei mais por que associei a paixão, mas ainda assim... Quero. Talvez apenas para lhe provar que tem valor. Que equivocou-se ao se autoestimar e que há muitos que desejam você. Para sentir o gostinho de estar certo, de que você realmente é tudo o que eu pensei que fosse, misturado ao próprio gostinho da sua boca. Para segurar sua cabeça, levantar meus olhos aos seus e sorrir, pensando o que se passa por detrás desses olhos enigmáticos. Talvez apenas para te sentir. Absorver um pouco dessa sua essência que tanto admiro.

Primeiro Encontro

Buscando uma forma de começar esse texto, não encontrei outra, senão o toque. A hora em que nos tocamos tão suavemente, que foi possível até sentir nossos sentimentos transbordando pelas pontas dos nossos dedos. Você deitado no chão. Eu sentado ao lado do seu corpo, observando-o enquanto recuperava-se. O sorriso ocupava meus lábios ao mesmo ritmo em que seu indicador deslizava por parte da minha perna. Seus olhos estavam fechados, mas podia sentir seu coração aberto. Minha mão percorria seus cabelos com mais ternura que esperei sentir naquela noite. Achava que a ternura havia sumido com a raiva que ora senti. Enganei-me. Acho que não há raiva que consiga plenamente suprimir a ternura de um coração. Entre murmuros, palavras foram trocadas. "Tá bom o carinho?". "Aham... Que primeira impressão você terá de mim?". "Já tenho, há muito, uma impressão sobre você... Relaxa." Sorrisos se trocaram e nenhum outro texto foi falado. Ficaram apenas ali, no silêncio, expressando-se assim, sem palavras. Assim:

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Prometeu Acorrentado

Por que você não me obedece? Hã? Por quê?! Por favor... Seria tão melhor... Para todos, sabe? Por que você não, simplesmente, faz o que eu mando, o que eu quero? É muito egoísta da sua parte, sabia? Ficar me causando todo, todo... Esse sofrimento gratuito... Essa dor, sabe? Esse vazio tão frequente que sinto. Eu te odeio, sabia? É uma coisa meio paradoxal odiar meu coração, que me dá a vida, mas no seu caso, também dá a morte! A morte de sentimentos, de esperanças, de perspectivas... Essa morte lenta e congelante que sentimos de vez em quando, sabe? E vem, e vai e volta. Volta para me trazer, mais uma vez, a dor. E não uma dor qualquer. Uma dor singular, diferente... É uma espécie de dor sem dor. A dor da dúvida. Se há dúvida, não se sabe se há ou não dor, efetivamente. Não se sabe se há ou não, praticamente, razão para dor. E essa sim... É a pior dor. A dor que vem, que vai, que retorna, que machuca, que me alucina... Que é a minha sina.