sábado, 12 de dezembro de 2015

À deriva

- Capitão?
- Pois não?

[silêncio]
- Pois não?!
- Ahm. Desculpe.

[silêncio longo]
- Quanta neblina.
- Te incomoda?
- De forma nenhuma. 
- Com o tempo, a gente se acostuma a olhar a neblina.
- Levou muito tempo pra você aprender, Capitão?
- Eu ainda não sei.

[silêncio]
- Entenda: a neblina não a vemos de perto. Apenas de longe. Lá longe, as curvas do céu se esfumaçam, as gotas de tinta se distorcem. De repente, tudo está em expansão, e o quadro se desfoca completamente... Parece que tudo cresce e se aproxima. [silêncio] Sem se dar conta, você está no meio da névoa. Nebuloso, turvo, distorcido. As gotículas de água raspam na pele dos seus braços e acomodam-se suavemente em seu rosto. Você tenta enxergar, mas não tem muita certeza se está conseguindo. Por fim, o nevoeiro se vai, desprendendo de você alguma coisa que não se sabe ao certo.

[silêncio]
- O senhor já passou por muitos nevoeiros, Capitão?
- Deles, eu nunca saí.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

De(s) a pego

Olhar a eternidade passar como quem observa o deslocamento de uma nuvem. Queimar-se inteiro por dentro diante do quão irremediável é o tempo; diante do simples fato de os passos não andarem para trás - apesar de olharmos tanto o passado. Esfumaçamo-nos na tentativa falha de deixar cinzas por um chão que, igualmente, se esfacela aos poucos.

Assim, agarramo-nos a todo resquício de algo que já foi ou possa ser - e surpreendemo-nos com a atualidade de nossas próprias e singulares palavras, e com a concretude de seus sentidos. 

Tudo isso para dizer: calma. Para proferir as mesmas palavras repetidas, relegadas a páginas e páginas azuis, velhos mausoléus de esperanças rasgadas com a fúria de um coração partido - juntado e, enfim, re-partido.

Tudo isso para dizer: tenha fé. É sempre o que sobra no final.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Paralelo

Sem muito o que dizer ou calar. Em algum momento, as palavras tornam-se repetitivas e desbotam-se aos poucos. Não há explicação, nem tampouco aceitabilidade, digamos. É quase um resignar-se por fora - mas, certamente, não por dentro. É difícil isso de se resignar por dentro... Eu fico esperando dias a fio.

Faltou o ar...
E não era da fumaça do cigarro que fumava, bem naquele dia que te conheci. Conversa vai e vem; um deck frio; a fumaça continuava a subir, costurando formas no ar tão espontâneas quanto as sinapses no meu corpo e coração.

Faltou o ar.
A gente segue a direção que o nosso próprio coração mandar. Ok, combinado.
Mas, sabe...
Até as linhas paralelas se encontram no infinito. E o mais lindo: esse tal infinito cabe no espaço de um beijo, de um olhar fulminante tentando descobrir pensamentos escondidos; cabe na beleza intraduzível de algumas palavras.

Faltou o ar.
É fácil encontrar o infinito. Até as linhas paralelas se encontram no infinito.

sábado, 28 de fevereiro de 2015

Indizivelmente eterno

eu não tenho a pretensão que ninguém leia isso até o final.
eu resolvi abrir mão dos meus finais!
é como se algo tivesse se desprendido da minha atenção e me permitido simplesmente observar as luzes de uma noite escura e sincera. enquanto eu, parado na janela, sentia o vento me bater suave no rosto e procurava uma palavra pra dizer esse momento, essa vida, ela simplesmente não veio.
me senti deliciosamente sem palavra. livre em um indizível presente...!
descobri a porosidade que tanto procurei. de tão linda, eu poderia ficar pra sempre olhando a eternidade passar.
abri mão dos meus finais. que o meu presente seja indizivelmente eterno!