sexta-feira, 28 de maio de 2010

Bailado

Seus pés deslizavam por todo o salão. O casal bailava divinamente. O blues conduzia-os suavemente por diversos cantos de seu amor ainda desconhecido. O agitar de pratos, a corda estancando-se vibrantemente e o enleio do sax... Ah, o sax! A sua aura que envolvia-os num único corpo e fazia-os entrar na mais profunda comunhão que só a música pode promover. O doce retornar ao passo, ao movimento, à dança por toda a extensão daquele lugar.
Agora eles se olhavam. Agora, era de um ao outro. O olhar que buscava a resposta. A mão que, firme, esperava o sinal. O sorriso que, maroto, crescia-lhes nos lábios ao prever o desfecho mais provável daquela valsa.

Je vois la vie en rose...

Ela pensava, enquanto o bailar agora, era o dos seus lábios.

Chama Semi-Acesa

Eu sei que você não vai ler isso. E também sei que você provavelmente não sabe de nada. Ou se sabe, fingirá que não sabe. Mas, como diz a música, 'what can we do with a sentimental heart?'. Enfim, é a música, sabe? Ela diz tudo. E, apesar de você, possivelmente, não ligar ou se importar, eu sou assim. Eu e esse meu tremendo coração somos assim. E escrevemos, e mostramos e amamos, muito, muito, muito. Então, não, eu não me arrependo. Pois eu sei que, no fundo, você gosta de todo esse cortejo incosciente. Você gosta de me ouvir falar aos seus ouvidos, mesmo sem nunca ter-me ouvido. E você gosta de ler meus versos, mesmo alheia a sua existência ou ao seu direcionamento, ao seu intento. E, eu, acima de tudo, adoro isso tudo. Esse jogo, essa brincadeira, essa... Chama semi-acesa a qual podemos chamar esperança?

Escape

E agora, pra onde eu fujo?
E agora, que direção tomar?
Sigo?
Volto?
Viro e recomeço?
E agora? - Expressão tão, por mim, odiada.
Agora, que eu digo.
Neste exato momento,
Que não mais o é,
pra onde eu fujo, me diz.
Onde?

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Música e Texto - Beautiful

Beautiful - Portishead

A maquiagem já estava borrada, tamanha a quantidade de lágrimas derramadas. O cabelo fora desfeito num acesso de raiva, A roupa, tão estranha àquele corpo, parecia querer deixá-lo. O espelho diante de Clara compadecia-se da própria menina que, face à própria e ridícula imagem refletida parecia enxergar-se pela primeira vez de verdade. Sorriu.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Na Medida

Eu adoro o seu jeito, sabe? Esse seu despojamento no falar, no andar... Essa coisa humana de ser, sabe? E acho o máximo como eu ainda consigo enxergar uma menininha em você! Por mais que seja estranho falar ou imaginar, eu consigo.
Te acho na medida, sabe, menina? Na medida da beleza, na medida do descolamento, da meninice, da molequice... Você é um mosaico de medidas perfeitas que cria uma imagem tão bela à primeira vista (de mulher forte, garota cool e descolada) e mais bela ainda à segunda (sim, há uma donzela por detrás do sorriso cool).
E eu acho isso lindo. Tão lindo, quase intimidador. Mas acredito que esse seu vasto coração multifacetado vale a pena ser explorado. E, pra isso, sim, assumo riscos.
Te quero, menina. Todas as suas partes.

sábado, 22 de maio de 2010

Ciúme Precoce

Chega a ser engraçada a forma como o ciúme se manifesta em mim... Ele vem cedo, sabe? Muito cedo mesmo! Quando eu ainda possibilito a coisa, quando penso, repenso, to analisando o caso e, ecolhendo a vítima - ou sendo escolhido por ela - é que ele vem: nessa hora, não pode haver outro. Jamais! Pois é essa a real hora da concorrência, não percebem?!

Quando você namora alguém, você já foi escolhido. Ela já te quer, amigo. O coração dela é seu, assiste a você mantê-lo dessa forma - e, cá entre nós, eu sou bom nisso...! - Então, caros, atentem, certo? Cada qual na sua estratégia ou falta dela. O que me lembra de um ponto muito importante: impetuosidade/espontaneidade não é o mesmo que sinceridade, logo uma coisa não tem nada a ver com a outra. Minha dica? Evitem a primeira. Não fiquem com essa palhaçada de "vou expressar meus sentimentos puramente e fazer o que eu quiser! Vou ligar pra ela 5478 vezes por dia, mandar 50 SMS's por hora e, é claro, ficar de plantão no msn!". Acordem, beleza?

Eu entendo esse furor de paixão. Essa eletricidade que o início de sentimento causa, e, particularmente, adoro! É uma sensação gostosa - não há outra palavra que descreva melhor! - demais. Todo o ritual do quer-não-quer (porque 'flerte' é uma palavra antiquíssima) é uma delícia, uma incerteza saboreável, mas não se esqueçam de tentar ser minimamente racionais.

E eu digo 'tentar', pois sei que é algo difícil de se conseguir realizar - captaram o tom 'experiência própria'? -, mas cujos resultados são muito proveitosos, então tentem tentar. Sejam tentados a tentar, ok?

E quanto ao ciúme...
Para Shakespeare, ele é um monstro de olhos verdes (será coincidência ser essa a cor de meus olhos? xD)
Para outros, é o tempero do amor.
Para mim, é o princípio de uma certeza...!

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Nebulosa

Ela chorava imóvel. Sentada com os pés bem juntos ao corpo. Seus olhos inudados perdiam-se no nada. Somente o que se ouvia era o som dos soluços; banhados no aroma do seu perfume doce, eles martelavam a noite fria, que entristecia-se cada vez mais com aquela cena. O luar, que adentrava a pequena sala pela janela vazada, também sentia profunda pena daquela jovem abandonada, cujos lábios ainda balbuciavam lentamente os mesmos versos, incansáveis e insaciáveis.

"Entre por essa porta agora.
E diga que me adora.
Você tem meia hora
Pra mudar a minha vida.
Vem, vambora...
Que o que você demora
É o que o tempo leva..."

Assim se fez até sempre. Até a jovem se tornar um borrão naquele lugar; até ela fundir-se ao luar, unir-se à noite e ficar a cantar, por meio da brisa, os mesmos versos tatuados na sua alma, então, nebulosa.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Essa tal Coisa

Eu juro que não sei por que. Juro mesmo. É um preencher tão pleno e tão instantâneo... Reverbera-se com tamanha rapidez, que quando dou por mim, meu coração já sorri e meus olhos já se agitam, a seguir seu passo pelo sonho afora.

Foi tão bom quando eu descobri essa tal coisa que nos morde e nois torna diferentes. Essa tal coisa que faz-me querer mandar um monte de mensagens de texto quando ponho-me a dormir... Foi maravilhoso essa autodescoberta. Descobrir esse sentimento e abraçá-lo sem medo. Querê-lo, amá-lo com tamanha sinceridade incabível em palavras, inexplicável em signos; expressável somente a quem o sente.

Essa tal coisa já fez-me escrever tanto e querer tanto o abraço, o toque, a presença de outras pessoas junto a mim. Ela também já deixou-me tão confuso... Tão, mas tão perdidamente louco no espaço entre a certeza, a dúvida e o gostar.

Essa tal coisa que, você leitor, acredita que seja o amor; mas é muito maior: chama-se carinho. Uma das melhores coisas que uma alma pode transmitir à outra.

Apenas Adormecido

Pode falar: aquele olhar te prendia, não? Te prendia e te fazia sentir o que você nem achou que poderia sentir. Confessa, vai... O leve constrangimento... O não saber pra onde olhar... O não saber como encarar tudo aquilo que se desenrolava a sua frente (e que você estava adorando que eu sei!).
Pode falar: esse sem jeito é uma delícia, né? Imagino se passou alguma ideia pela sua cabeça.. Confesso não saber bem o que achar nesse caso, mas sei, tenho certeza que algo se passou...
Ó, minha cara, saiba que não há monstro inexistente, apenas adormecido - aparentemente, querendo acordar. E saiba, acima de tudo, que é perfeitamente entendível, ok? Especialmente no seu caso. E que caso, hein.

Perspectiva

Palavras podem ser as mesmas. Sílabas unidas, letras de mãos dadas. O que elas proferem, em parte sim; seu significado puro e simples, sim, manter-se-á; mas aquele colorido adquirido quando salta-se dos lábios de quem as pronuncia nunca será igual. Nunca mesmo!
E é essa a magia do teatro. Por mais que tudo seja igual, sempre irá mudar. De ator a ator, de sílaba a sílaba, de referência a referência, tudo se transforma, se adapta, se transmuta no transmissor daquela mensagem, o qual, certamente, carrega muito mais ela do que o próprio autor.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Se Deixar

Gostaria de postar a letra de uma música que escrevi há um tempo e cujo significado é muito especial para mim. Ei-la:

Se Deixar - Matheus Marques

Caminhando, passeando

Sem destino, apenas contemplando
As surpresas da minha vida.
Que dão valor, que dão amor,
Que me fazem senti-la

Como ela é, como deve ser,
Como a devemos ver:
Com olhos de esperança;
De forma positiva!
Quando estou feliz
E me sinto bem, não me deixo importar
Com o que os outros têm
Para me abalar...

Acredito em você.
Acredito em mim.
Acredito em viver,
Acredito em sorrir.
Acredito: o presente, na palma da mão.
Acredito que viver seja a solução.

O passado é passado;
É pesado demais pra carregar.
O que importa é o agora e o aqui,
Que vão dizer, que vão reger
A vontade de sorrir

Como ela é, como deve ser
Como a devemos ter:
Espontaneamente,
Com lábios de alegria.
Há de ter paixão, além de querer,
A esperança dominar você
É essencial, pro sonho ser real!

Acredito em você.
Acredito em mim.
Acredito em viver,
Acredito em sorrir.
Acredito: o presente, na palma da mão.
Acredito que viver seja a solução

Viver sem hesitar.
Viver sem se preocupar
Viver, viver, viver, viver, viver, viver e se deixar sonhar!
Viver sem hesitar.
Viver sem se preocupar
Viver, viver, viver, viver, viver, viver e se deixar levar!

Contente Contágio

O seu sorriso me prende.
A forma espontânea como ele surge. Eu lembro cada pequena torção da sua feição até ele se criar, sabia? Esse lento movimento que transforma cada pequena parte do seu rosto numa peça estimadíssima de um raro mosaico perdido no tempo: a alegria pura e plena.
Enquanto busco palavras para traduzi-lo, ele fixa-se mais e mais em mim. Percebo-me sorrindo também, e percebo que, além de lindo, o seu sorriso é contagioso.
Então, sorria, meu bem. Sorria para o mundo, e incite-o a partilhar da sua alegria, do seu charme e, sobretudo, da sua esperança.

sábado, 8 de maio de 2010

O rapaz do fone e lágrimas (fragmento)

Subiu as escadas em direção ao terraço. Sentiu o vento frio recepcionar sua chegada. Ventava forte e o céu estava escuro na sua maioria. Seus passos trêmulos o locomoviam devagar, uma mistura de medo e frio. Enquanto se afastava cada vez mais da porta, sentia uma estranha sensação de liberdade e... Uma mais estranha ainda felicidade! Ele não conseguia explicar... Era como se a sua tristeza tivesse alcançado o seu ápice, e agora, em seus últimos minutos, se transformado num sentimento de confusa alegria; uma tática da loucura e do desespero para lhe dar mais certeza e vontade, pois agora era o que restava: certeza, coragem e saudade. Muita saudade das bochechas ruborizadas, cuja felicidade dependia do outro, estava além do fone e da lágrima.

Ao fundo daquela cena, ao final da linha do horizonte, o sol parecia lutar contra as nuvens que fechavam o céu. Em breve, o tempo mudaria. O tempo lá fora; o lá dentro não. O fone tocava a vinheta da certeza e as lágrimas já haviam secado. Nada mudaria.

- Para!

Nada?

Aquela voz que sempre ressoava através dos fones. Que, diluída nas lágrimas, atingiam o íntimo do rapaz. Aquela voz viera.

- Não faz isso...

As suas bochechas não estavam ruborizadas. A sua face não estava tranqüila. Seus cabelos eram levados pelo vento. Seus olhos afogados suplicavam. Ele se virou. Um filete de água descia do seu olho esquerdo em direção a sua boca. Ele encarou-a sorridente. Viu a pena no olhar dela. Ela se aproximou do parapeito, onde ele estava em pé, sem tirar seus olhos dos dele. A menina das bochechas ruborizadas estendeu-lhe a mão e o trouxe para perto de si, tirando-o do degrau. Diante dela, percebeu: a distância nunca foi tão pequena e tão enorme. Lágrima rolou pela face não mais ruborizada.

- Não vale a pena. Eu não valho a pena... – A boca vacilante quase implorava. O rapaz apenas a observava, com mesmo sorriso indecifrável. Ela o olhava apenas nos olhos; ele buscava cada centímetro do rosto amado; buscava fixá-lo para não esquecê-lo. Acarinhava a pele dela; sentia o seu aroma... E espremia seus cansados olhos para prender em sua mente as lembranças felizes. As mensagens, as músicas, até as lágrimas.

A dor do rapaz foi percebida pela menina, que levantou a sua mão e a conduziu ao rosto dele. Rápido e indolor, ele afastou-se para trás, e ela, insistentemente, foi ao seu encontro. Agora, quem olhava fixo era ela, com ambas as mãos no rosto dele, as lágrimas soltas em seu rosto e um crescente desespero em seu peito, ante a possibilidade de acontecer o que tudo indicava.

- Por favor. Por favor...! – ela tentava – Olha pra mim.

E os olhos abriram-se e a viram como nunca antes. Ela implorava. Implorava com todas as suas forças. Implorava covardemente com artifícios mais que tentadores... As bochechas, a boca, os olhos...! Suas feições ajoelhavam-se aos pés dele. Ele sabia. Só havia mais uma saída, uma saída covarde. Os olhos estavam decididos. O sorriso já havia desaparecido. Havia apenas mais um teste, uma última prova cuja reprovação decidiria o desfecho daquela tarde. Ele a olhou fixamente, e, assim, curvou suavemente sua cabeça na direção dela; seus olhos se encontravam, seus rostos se aproximavam, e suas bocas quase se tocaram, antes da menina esquivar seu rosto e, em vez de lábios, oferecer bochechas, novamente ruborizadas.

Reprovação.

- Adeus... – sussurrou-lhe aos ouvidos, com todo o carinho que conseguiu transmitir.

E num mergulho para trás, o rapaz do fone e lágrimas jogou-se no mar salgado de todo o seu amor, para nele se afogar. O grito da menina de bochechas ruborizadas ficava mais e mais distante, até tornar-se inaudível no limite entre a vida e a morte. Nem mais uma lágrima. Os olhos secaram, inertes, presos num infinito atemporal. A música continuava a tocar, ainda melancólica, repetindo ao mundo a sina daquele rapaz. E continuava suave enquanto as pessoas se aproximavam. E continuava lasciva enquanto a menina amada se ajoelhava. E continuava sublime enquanto ela cerrava os olhos secos e ainda indecifráveis.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Bacantes

A luz estava baixa. A claridade era poca. Melhor assim... As pessoas agitavam-se de cômodo a cômodo. O álcool - servido quase ritualisticamente - subia às consciências de - quase? - todos, deixando o desfecho daquela noite entregue a... Baco? Talvez. Ou então, entregue aos próprios desejos daqueles loucos.
A música, não tão alta, embalava o que viria a seguir, por mais que os envolvidos ainda não soubessem, apenas desejassem. Num repente e numa sombra, um beijo - há muito desejado. Acima de tudo, uma satisfação e um indicador sobre lábios:

- Escondido é sempre melhor.

Outro sorriso, agora cúmplice. Cumplicidade essa que se repetiu pelo resto da noite que se abria. A espreita, o perigo, o frisson... Foram bons enquanto duraram, até que, com a descoberta dos bacantes, acabou-se a graça - pelo menos, aquela.
Num outro repente, um ataque. Da outra parte, ou "partes". Sim, a covardia de duas forças sobre uma que, após lutar com (falsos?) escrúpulos, rendeu-se e entregou-se. E não se arrependeu. Felizmente, o álcool não havia lhe tirado a sanidade, talvez parte do bom senso, apenas (ou seria "ainda"?).
O fim da noite foi marcado pela persuasão. Pela eloquência de palavras quentes ao pé do ouvido... Mas, sobretudo, pelo toque e pelo calor - no seu sentido mais humano - trocado entre aqueles corpos e almas.