quarta-feira, 15 de julho de 2009

Para Nunca Mais Voltar - 1

- Pode deixar. Eu sei lidar com ele.

Após essas palavras, Mônica desligou o celular. Sinceramente, não se sentia mais à vontade ali, perto daquele sobrado. As recordações não eram agradáveis. Mas a situação era outra. Anos se passaram, muitas coisas mudaram, e a irônica vida trouxe a jovem, novamente, ao seu ponto de partida, ao início de tudo.

Colocou os óculos escuros - ser reconhecida seria trágico a este momento - e andou apressadamente. Cruzou a alameda, como sempre abandonada do prédio e seguiu, cautelosamente, subindo as escadas. Em suas mãos, nada além de uma pequena... Diga-se alternativa.

* * *

Ele olhava a sua própria volta. Tudo em torno. As paredes, a caixa, o tapete. A cômoda, os papéis, a cola Pritt. A cola polar, o grampeador, a caneta BIC. A tampa da garrafa de guaraná, a capa de CD vazia, o calendário porta-retrato.

Mas nada. Nem sinal. A resposta de que precisava não estava ali.

Inquietou-se e levantou. Não conseguia permanecer parado nesse estado, suas pernas não lhe obedeciam. Enquanto vagueava pelo quarto, seus dedos ágeis acenderam o cigarro e levaram-no à boca trêmula. O trago veio doce. Aquele veneno que inspirava percorreu todo o seu corpo, e a fumaça misturou-se à sua enegrecida alma. Quando abriu os olhos vermelhos, tudo parecia mais calmo. Um pouco mais tranquilo. Ele sentou-se e, pela primeira vez em meses de agonia, sentiu-se relaxado. Mesmo sabendo que a sesnação duraria pouco, que era apenas ilusória, paliativa, sentiu como se todas as preocupações tivessem abandonado a sua conturbada mente, levando consigo toda a sujeira contida nela.

A campainha tocou, trazendo os tormentos de volta. Victor levantou-se num susto. A única pessoa que conhecia este endereço não era nem um pouco bem-vinda. Lentamente, cruzou o pequeno sobrado e pegou um taco de beisebol, a única arma que possuía para se defender. As batidas voltaram, mais impacientes. Seus olhos vermelhos, vidrados no olho-mágico, sem coragem de aproximar-se.

- Victor?

Essa voz. Essa voz!

- Mônica?!

Ele abriu a porta num ímpeto, esquecendo qualquer medida de segurança. Poderia haver um exército, ou quinhentos mercenários atrás dela, mas a sensação de... De rever, de observar, de simplesmente ouvir a voz dela supera qualquer risco!

- Amor! Mônica, eu senti tanta saudade! Foram anos, anos, tentando te encontrar! Depois da Grécia, eu achei que nunca mais ia te ver! Foram quantos? Três? Quatro anos! Foram quatro anos sonhando com você, sonhando em te encontrar...! Eu pensava que você tinha morrido, mas...

- Victor... - ela parecia hesitante.

- Eu tinha esperanças de que você chegaria! Não sei como, não sei onde, mas sabia que você ia me achar!

- Victor, me escuta...!

- Você soube, Mônica? Estão tentando me acusar de algo que eu não fiz! Estão tentando me incriminar...! Mas eu nunca sequer cheguei perto daquele...

- Você está preso.

Os olhos do rapaz, mergulhados em desespero buscaram a resposta no olhar evasivo de Mônica, que lhe apontava uma arma enquanto tirava as algemas do bolso da calça.

- O quê? Não... Não...! Você não! Você também não, porra!

Rapidamente ela o algemou, e uma equipe à espreita entrou e o retirou dali. Mônica reentrou no pequeno sobrado e observou tudo ao seu redor. As paredes, a caixa, o tapete. A cômoda, os papéis, a cola Pritt. A cola polar, o grampeador, a caneta BIC. A tampa da garrafa de guaraná, a capa de CD vazia, o calendário porta-retrato. A sua foto nele. Grécia.

- Limpem tudo. - ordenou enquanto saía. "Para nunca
mais voltar" desejou.

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