quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Arpoador

Que vento gostoso batia-lhe contra o rosto! O olhar perdia-se no horizonte. Ligeiramente, não sabia para onde olhar. A todos os seus lados, o belo exibia-se com suavidade e intensidade, combinação própria da natureza. Por um momento, fechou os olhos e preferiu apenas escutar o barulho do mar. A omissão da visão aumentar-lhe-ia a capacidade de sentir. O mar, o calor das cores, o frio do vento, a curva das pedras retorcidas aos seus pés, e o seu próprio desejo que jazia latente, até então. Ao seu ouvido, as ondas batendo na orla transfiguravam agradáveis melodias, cujas letras formavam-se no coração do rapaz.

Esquivando-se dos elementos alheios, ele decidiu voltar-se a um diálogo mais concreto. Abandonou sua reflexão e caiu no diálogo. Sim, diálogo, já que não estava sozinho. Junto a sua (absoluta?) companhia, envolveu-se num papo que não acabaria mais. Viajaram a âmbitos distantes, como preferências, bobagens, Platão, filosofia e tal... Quem diria, hein? O sol caindo, palavras sendo trocadas, intercaladas, obviamente, por risos, e certa dificuldade em achar o caminho de volta. Talvez devessem tomar uma lição com João e Maria para a próxima vez...

A neblina da orla adensava-se. A noite já havia caído. Era hora de emergir daquele universo infinitamente restrito, pelo menos por enquanto. Seguiram seus passos por onde haviam chegado, refizeram o trajeto, e o rapaz deu um vago e silencioso adeus ao recém descoberto local.

2 comentários:

  1. Se eu não fosse tão preguiçoso, escreveria um texto tb, pra vc ver a diferenças de visão de 2 pessoas sob a mesma perspectiva....

    p.s.
    no meu crossfox, eu vou sair....

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  2. um dos meus cantos preferidos nessa cidade, incrível como me faz bem morar aqui apesar de tudo.

    "A omissão da visão aumentar-lhe-ia a capacidade de sentir." Essa parte é muito bonita e me lembrou o pequeno príncipe quando diz "o essencial é invisível aos olhos".

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