quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Cassie

A pergunta fora feita apenas uma vez.
Seu braço segurava aquela arma com asco. Ela tremia. As lágrimas corriam soltas, mas nem um soluço. Estava em silêncio. Não ousava emitir um único ruído além da resposta desejada. Ela sabia qual era. A desejada sim, a que deveria ser tomada, não.
Noite adentro, e densa névoa caía lentamente. Ela envolvia as cinco pessoas, e os prendia àquele cenário macabro, mas perfeito para a ocasião. Cassie, em seu íntimo, suspeitava que o espesso nevoeiro havia congelado os corações daqueles dois homens junto à sua esperança, e seu - ainda despercebido - arrependimento. Ela tremia, não só pelo frio.

- E então, menininha...? Está criando coragem? Você tem apenas duas opções, criança: sim, ou não. Escolha! Deveria ser fácil para você...
Sua risada ecoava pela noite. O destino das três estava nas mãos trêmulas de Cassie. Ela olhou para Rachel e Nina, sob a mira da arma do outro cara. Estavam aterrorizadas...
- Eu não posso atirar em nenhuma...
- SIM ou NÃO, Cassie, nada mais! - O mais alto deles gritava... Seus olhos estavam vermelhos como o fogo; ela queria queimá-los, só para tirar aquele sorriso dos lábios do homem!
- Por favor... - ela implorava.
- Responda!
- Eu... Não sei mais.
- O tempo está passando, Cassie. Decida.
Ela não tinha coragem. Não podia fazer aquilo. Eram suas amigas. Mesmo apesar do que fizeram, no fundo eram... Amigas? Parte dela já não sabia... Tudo o que aconteceu nos últimos meses foi muito confuso. Aquelas meninas, agora à mercê da vingança de Cassie, já foram suas amigas. Num passado não tão distante ou remoto, mas Cassie não podia tolerar...

Tolerar a traição, a humilhação pela qual a fizeram passar...! Depois de tantos anos de amizade, como pode tudo mudar de uma hora para a outra...?! Elas se esqueceram de todos esses momentos...?!
Essa raiva, esse rancor, esse ódio fazia o punho de Cassie apertar aquela arma... Ela sentia o seu sangue ferver, sentia as lágrimas secarem à medida que seu braço, maquinalmente, erguia-se na direção das meninas. O 'SIM' estava vindo. Estava perto. Estava a centímetros da boca de Cassie. Os olhos do homem que gritara com ela ferviam. Mas quando a arma já estava em riste, algo acertou-a como um soco. O que Rachel fazia...?

- Você está rezando...? - Toda a decisão presente anteriormente no rosto de Cassie, esmaecera.
- Eu tenho fé que esse monstro que sustenta o seu braço vai te abandonar...
- CALADA!
O tapa não machucou o rosto de Rachel. Ela parecia estar surtindo efeito em Cassie.
- Eu sei que fizemos coisas horríveis com você. Mas essa não é a solução, Cassie... Por favor...
O homem que lhe apontava a arma, puxou-lhe os cabelos, e colocou a arma em seu pescoço. Ela já não se importava mais com aquilo, preocupava-se com Cassie. Nnca achou que a amiga fosse capaz de armar algo como aquilo...
- CASSIE! - ela gritava. - Por favor, eu tenho fé em você!
- Você acredita em Deus, menina?! - O homem gritava, ele parecia enlouquecido - Acredita?! É o que vai estar escrito nessa bala, que vai te matar! Anda logo, Cassie, sim ou não?! SIM ou NÃO, CASSIE?!
A arma continuava em riste. Seu rosto, agora, vazio. Era um trbilhão, em sua mente, o ódio misturado com a pena, sentia o sangue ferver, lembrava-se da humilhação, da indiferança, mas também dos momentos em que passaram juntas... Sentia o peso da arma, o peso da sua própria consciência; sentia o sangue a escorrer-lhe a mão, sentia a culpa, por aquela situação toda... Sentia que só havia uma solução, uma resposta, uma forma de fazer a dor parar, as lágrimas secarem, o sangue parar de ferver, parar de correr...!
- SIM! - Ela gritou.
E foi a última coisa que fez. O resto quem fez foi a sua própria arma, em sua própria têmpora.
Estava acabado.
As meninas correram ao seu encontro. As lágrimas correram fartas por suas jovens faces. Nunca imaginavam que poderiam gerar tal atitude. Apenas uma brincadeira, uma... Uma inofensiva brincadeira de mau gosto... Os homens, fugiram, perturbados. Até a névoa pareceu sumir. Levando consigo a vida da jovem Cassie.

(Baseado na música 'Cassie' do Flyleaf)

Matheus Marques

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