sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Relato de uma quinta-feira

A batalha era quase covarde... Tudo conspirava contra ele! O escuro, o vento, a suave brisa que entrava pela janela aberta ao seu lado e, acima de tudo, o não poder. Aquilo que não se pode fazer, por alguma razão, é muito mais atraente, tentador.
O som chegava aos ouvidos de Tales em pequenos intervalos. Apenas algumas palavras, no máximo frases, eram absorvidas. Mal entendidas, mas escutadas, sim, elas eram.
Ele olhava, entre as frestas de seus olhos, aquele esquema e tudo intensificava-se; aos poucos, perdia os sentidos, o domínio de si próprio e a poquíssima vontade de ali estar. Em várias tentativas, desviava o seu olhar para o lado de fora e, por alguns segundos, observava o movimento dos carros e das folhas que pendiam presas nos galhos. Sentiu inveja de ambas; da liberdade do carro, da singularidade das folhas, daquels senhora de preto e boné que praticava a sua caminhada matinal e de tudo após a janela.
A buzina tocada por uma mão impertinente chamou-lhe a sua própria realidade, e os olhos de Tales ganharam um suspiro de vida, algo momentâneo, uma onda de atenção. O garoto olha ao seu redor e percebe que não está sozinho na batalha. A maioria dos que estavam ali também travava uma árdua luta.
Porém, à medida que a luta se acirrava, tornava-se mais difícil manter-se focado, concentrado...
- Pô cara, assim não dá. Quer lavar o rosto?
- Não, professor, ta ok. - desculpou-se Tales, enquanto esfregava os recém-abertos olhos.

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