segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Risadas Falidas

Meu Deus, como estava quente! Será que todo aquele sol nunca pararia de bater exatamente no mesmo ponto da nuca de Gabriel?! Enquanto sentia o calor fritar seu pescoço, o menino observava de longe, a rua se mover à sua direita. Nada fora do comum - além da merda a que chamam "calor" e a pseudo-necessidade - ninguém o convenceria NUNCA de que aquilo era REALMENTE necessário - de, mais uma vez, acordar às cinco e meia da manhã para ir a escola.
Sim, volta às aulas, inferno particular de um garoto em ano de vestibular. Se ainda fosse um ano normal, tudo bem. Mas não, não era um simples ano de vestibular (engraçado que essa palavra costumava causar calafrios, mas agora não mais. Ela já penetrou a derme desse menino em forma de ódio liquefeito...), era um ano de MUDANÇAS no vestibular, o que tornava as coisas acentuadamente, piores...
Então, para Gabriel, as férias foram um momento de valor inestimável, um descanso, obviamente, mas um extravaso sem igual! Ele nunca aproveitou tanto um único momento de sua vida, pois ele sabia que aquilo acabava. A cada segundo do dia que passava, aquela grandiosa sensação de, diga-se liberdade, parecia consumir-se, e Gabriel sabia que, dali a pouco, ela se esgotaria e seria, finalmente, hora de fechar a cara e falar sério. Engolir a dor, e os livros, de uma só vez.
E agora, enquanto voltava para casa, após o prelúdio dessa maratona a que chamam vestibular, ele sentia que devia falar sério, mas tudo o que saía de sua boca eram risadas. Risadas falidas, frias, mas risadas. E então, começou a rir de sua própria situação. Ria das risadas. Enquanto se observava e analisava as suas metarrisadas, chegou a pensar que fazia o certo, ao passo que todos os outros, os normais, os que não riam, eram os errados. E para ser completamente sincero, essa era a única certeza de Gabriel: ele estava certo. Em lugar da cara fechada, Gabriel esbanjava a face aberta; em lugar da crescente preocupação, o garoto mostrava a, considere-se, negligência; e ao invés da seriedade, exauria a risada, consumindo todos os músculos da sua boca até o momento em que fosse possível, para que quando seu rosto de fechasse, o fizesse apenas uma vez, e então tornasse a se abrir.

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