quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Um pisão no pé?

Absorto estava e assim continuei quando ela entrou. Algo do lado de fora da janela prendia a minha atenção. A cabeça recostada, o fone no ouvido, os óculos escuros protegiam meus claros olhos da exposição de meus pensamentos, que, desprendidos, voavam pelo ar em busca de esclarecimentos vindouros.

Ela parou logo ao meu lado. Percebi imediatamente a pele claro, o cabelo preso num coque e o jaleco do CEFET. 'Inteligente...', pensei. A hibernação da mulher que ocupava o assento ao meu lado terminou, e ela levantou-se rumo à porta. A menina do CEFET, até então em pé diante de mim, pediu-me licença para sentar; eu me afastei, aproximando-me da janela e sem querer pisei-lhe o pé.

- Desculpa.
- Tudo bem.

E a isso resumiu-se o diálogo. Obviamente, né? O que mais haveria a ser falado? Nada. Mas, aparentemente, eu não me satisfazia com nada. Eu queria mais. Eu queria conversar mais. Que sensação estranha essa, um tanto quanto inédita, até. Nunca fui tão incitado por mim mesmo a puxar conversa com uma desconhecida.

Foi estranho e ao mesmo tempo me levou a refletir sobre isso. O mundo seria tão melhor se as pessoas simplesmente conversassem umas com as outras, não? Falta palavra, diálogo, calor humano no mundo de hoje. As pessoas deviam conversar mais, se conhecer mais. Somos todos habitantes do mesmo mundo, numa mesma luta por felicidade e autorrealização, de que mais fatores comuns precisamos? Que outros pretextos são necessários? Um pisão no pé? Apenas?


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