domingo, 10 de janeiro de 2010

No Desconhecido - 02

De volta ao interior do quarto, Mina percebeu-o em cada aspecto. Seus olhos verde-esmeraldas varreram cada centímetro do aposento, registrando seus mínimos detalhes. A decoração, os quadros, a intenção em se criar um clima sedutoramente sinistro - ao qual Mina reconhecia estar cedendo - e tudo que contribuía para a atmosfera daquele misterioso quarto em que a jovem acordou.
O receio e a ousadia flertavam no interior de Mina, que desejava desbravar o castelo onde estava, envolver-se naquela névoa, naquela sombra de mistérios que pairava pelo ar. Fundir-se a ela, e vagar imaterialmente pela história daquele local, tornando-se parte dela. Seus olhos fascinados orbitavam pelo teto, assoalho, paredes e chão. Seus lábios resignaram-se em silêncio, para não atrapalhar o sentido que ora reinava. Sua mente já não era mais dela; há muito havia desprendido-se de Mina para brincar com as mentes de outras belas donzelas que ali haviam estado e, igualmente, perderam-se em nebulosas sonhadas.
No estado em que estava, Mina não percebeu esbarrar com seus dedos na ponta da mesa central. Uma sensação estranha percorreu-lhe como um choque; seus olhos reviraram, as cores transformaram-se, imagens distorcidas formaram-se diante dos seus olhos, tudo numa fração de segundo, duração do contato estabelecido com a mesa. O que havia acontecido? Que sensação fora essa? As cores, as formas, tudo... Aquilo tornava-se mais estranho, o que haviam feito com ela? Ofegante, ela percebeu: uma única maneira de saber. Seus olhos desceram ao encontro da mesa, fecharam-se em sua própria escuridão, e os dedos da jovem procuraram, num repente, o toque. Uma onda avassaladora encolheu Mina a sua própria esfera, e a fizeram revirar-se num plano jamais habitado. As cores, as imagens, tudo transmutava-se a um universo atemporal em que Mina, num baque aterrissaria em breve. 'Não rompa o contato, não rompa o contato!'. Em breve, ela esperava saber aonde estava indo - se, de fato, estivesse.

2 comentários:

  1. Muito bom! Gostei especialmente de "perderam-se em nebulosas sonhadas". *-*

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  2. Excelente texto. Um processo fluídico da vida descrito numa abordagem surrealística.

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