quinta-feira, 20 de maio de 2010

Nebulosa

Ela chorava imóvel. Sentada com os pés bem juntos ao corpo. Seus olhos inudados perdiam-se no nada. Somente o que se ouvia era o som dos soluços; banhados no aroma do seu perfume doce, eles martelavam a noite fria, que entristecia-se cada vez mais com aquela cena. O luar, que adentrava a pequena sala pela janela vazada, também sentia profunda pena daquela jovem abandonada, cujos lábios ainda balbuciavam lentamente os mesmos versos, incansáveis e insaciáveis.

"Entre por essa porta agora.
E diga que me adora.
Você tem meia hora
Pra mudar a minha vida.
Vem, vambora...
Que o que você demora
É o que o tempo leva..."

Assim se fez até sempre. Até a jovem se tornar um borrão naquele lugar; até ela fundir-se ao luar, unir-se à noite e ficar a cantar, por meio da brisa, os mesmos versos tatuados na sua alma, então, nebulosa.

Um comentário:

  1. Melhor que "você tem meia hora para mudar a minha vida" é "Você tem exatamente um segundo para aprender a me amar, você tem a vida inteira para me devorar..."

    Salve Adriana Calcanhoto! Salve Cazuza! Salve a Música Popular Brasileira!

    ResponderExcluir