sexta-feira, 30 de outubro de 2009

A Estrada


Sigo por aquela que a tudo me leva.
Vagueio sem rumo, apenas por vagar.
Esperando o momento em que o horizonte me tragar,
E voltar, em sonho, à sina que me espera.

Caminho olhando em direção a grande luz.
Dela, me aproximo ansiosamente.
Aguardo o momento de penetração da mente
Por ela que, sempre, a todo instante, me seduz.

Passeio por ela, mil histórias compartilha.
Contos de amores, de dores, de pranto, de pesar.
A ela, costumam os sofredores escapar
Do mal que os fere, os agride, os humilha.

Reparo sua trilha, seu rastro permanente...
Dezenas, centenas, milhares transitores.
Inúmeros, diversos, incontáveis genitores
De histórias, das memórias do seu asfalto decadente.

És relicário, mausoléu, guardiã de histórias nossas.
Conforta-nos, enleia-nos, distrai-nos com tua beleza.
Mas o que tem de infinita, também tem de esperteza,
E guarda em seu asfalto, espaço a novas bossas.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Música e Texto - The Nicest Thing


The Nicest Thing - Kate Nash
Eu ainda me lembro. Da música ao vento frio. Dos carinhos não lembrados ou percebidos. Do desejo. Do meu desejo de ser seu. Da minha necessidade de ser seu! Eu ainda queria que você lembrasse... Tudo. Tudo o que eu fiz, todo o amor que eu dei. As cartas, as lágrimas, a sinceridade, e, mais que tudo, a flor lilás que eu lhe dei e você pôs sobre o seu travesseiro. Eu queria ser a última coisa a vagar pela sua mente quando você se põe a dormir. Eu gostaria de voltar. Voltar no tempo e reescrever a nossa história, eliminando o ponto final. Esse ponto que abruptamente interrompeu o meu querer, a minha força de vontade, a minha insistência, mas não o meu amor... Ou então, gostaria que os nossos - então apaixonados - corações contribuíssem cada qual com mais um ponto, de forma a tornar o ponto final reticências e, aí sim, viver um amor pleno, com início e meio, mas sem fim...

Música e Texto - Photograph


Photograph - Nickelback
Essa foto... As lembranças, as confissões... O silêncio, acima de tudo, o silêncio. Assassino, ou até mesmo, suicida. Procuro, em meio às lembranças, um rastro, uma pista, um adeus um porquê. Eu me vejo a procurar pela cidade. Cada local, um flash, uma lágrima. Cada lágrima, uma foto. O tempo já foi. O espaço perdeu-se. Tudo já fora, não é mais. A corrente ainda permanece, resistente, quase invisível, até sumir.

Música e Texto - Explicações

Assim como a sessão 'Minhas Teorias', agora também há a sessão 'Música e Texto'. Diferentemente da outra sessão, esta possui uma peculiaridade: eu as escrevo por inspiração de alguma música que ouço apenas enquanto escrevo. Eu começo a escutar a música e escrevo o que me vier à cabeça à partir dela. Eu to adorando essa experiência, gostando tanto, que, às vezes, escutar a música uma vez só não dá pra concluir o txto que está se desenvolvendo tão bem... Dá uma pena... Enfim, aproveitem.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

No Covil das Cobras

Hoje à tarde tive que ir ao Barra Shopping para ver a roupa do meu níver partes 1 e 2. E eu percebi simplesmente que eu odeio shopping e tudo o que ele representa! Sério! Tudo bem, é óbvio que eu vou continuar indo ao shopping por questões de necessidade, é a vida, mas, meu Deus, que lugar horrível! Vamos a minha saga...
Chego e traço a minha estratégia: "começo por esse lado, perto da Fnac, da U2, vou pelo piso de cima, se eu vir alguma coisa legal, entro na loja, vejo o preço de algumas coisas, se gostar anoto o nome da loja e do que gostei". A princípio, estava tudo ótimo. Entrei na U2, dei uma olhada numas coisas legais e tal, e saí, segui meu rumo à próxima parada que foi a Borelli, onde vi outras coisas interessantes. Um parêntesis: o carinha da U2 - e eu adorei isso! - simplesmente ficou falando no telefone até EU, sim, EEEEUUU ir procurá-lo! Por que os outros lojistas não aprendem com ele o que é deixar um cliente à vontade?! Eu odeio me sentir um pedaço de carne quando entro na TACO e vem 526 atendentes em cima de mim, quase gritando "carne fresca! comissão!". Aliás, pra que taaanto empregado assim na TACO? Meu Deus do céu, é uma seita aquilo lá? Enfim, segui meu caminho, indo parar na loja da C&A. Sim, eu não tenho problema nenhum com a C&A. Apesar das pessoas falarem isso e aquilo da C&A, da Renner, e essas lojas assim, tipo, qual o problema?! Meu Deus, também tem roupas bonitas lá. Boas calças, camisas, bermudas, e aí? Se eu não comprar lá eu vou comprar roupa onde? Nessas cinquenta mil lojas onde você compra uma camisa branca, lisa, sem estampa, nem porra nenhuma por 125,00?

Gente, eu não entendo isso! Tipo, ok, "é a marca, você paga pela marca". Quer dizer que eu vou pagar 100,00 a mais por um produto igual pra OSTENTAR - odeio essa palavra - uma marca? Gente, sou eu o errado? O idiota, alguém, por favor, me responde, só eu discordo dessa ilógica?!
E foi aí que eu percebi uma coisa: meu Deus, eu estava ali. No meio daquilo tudo... De bolsas, de compras, da venda de ideias que eu jamais concordei, de uma massificação de falsos valores e costumes de ostentação, estereotipação, marcados por símbolos. E, de repente, eu queria possuir esses símbolos. A grande - e vital - diferença era: eu queria possuir mercadorias bonitas, seja da C&A, da Cavalera, da Citycol, ou do camelô da Taquara. E me senti autêntico mais uma vez; genuíno mais uma vez. Me senti o Matheus mais uma vez.

sábado, 24 de outubro de 2009

Minhas teorias - 03


Mundo Dançante
Qual a nossa sensação quando dançamos? Sei lá, falando por mim, é algo que se assemelha à liberdade. Ao involuntário, à espontaneidade, à vivacidade em si. E eu acho que é exatamente disso de que o mundo precisa! Dança! Pessoas dançando. Não só dançar por dançar. Sançar por dançar, sim, somado a tudo que a dança representa! Não ter medo de, quando ouvir uma música alegre na rua, deixar-se levar pelo som e contribuir à normalidade do cotidiano com um ou dois passos de dança; não ser chamado de maluco só porque anda mais animadamente, só porque escuta uma música mais alegre. Então, se as pessoas se deixassem envolver pela música, e permitir que esta penetre por todo o seu corpo atingindo locais escuros e desconhecidos dentro de si, fazendo despertar uma loucura, um fulgor, um frisson louco que cause um remexer mais louco ainda de extremo a outro do corpo, o mundo com certeza seria um lugar, no mínimo mais leve, sem tantos estresses, muitas vezes desnecessários. Se as pessoas ainda ouvissem o que as pessoas têm a dizer. Se elas ainda aguçassem suas percepções, suas sensibilidades e suas peraltices, o mundo, sem dúvida seria diferente. Se as pessoas dançassem, na chuva, no sol, no momento em que quisessem... Tudo seria tão mágico e divertido... Até utópico.

Minhas teorias - 02


Tempus Fugit


A vida é curta e longa demais. É, isso mesmo. Ela é curta demais para perdermos tempo e deixarmos de viver, e longa demais para nos apegarmos a pequenas coisas e erros.

A vida é fugaz, muito mais do que parece. É um fio tênue no qual nos equilibrando pendendo mais para um lado, mais para o outro, flertando com o perigo, com as aventuras e seduções. Se nos deixarmos esquecer, se nos deixarmos perder por toda essa vastidão, acabamos esquecidos! Longe, num infinito atemporal distante de tudo, de todos e da vida que devíamos, mas não conhecemos! E quando vemos... Acabou.

E ao mesmo tempo... Ai, ela é longa... Se arrasta, se estica, se dobra e desdobra ao longo de seu extenso caminho. Nos dá tantas chances! De mudar, recomeçar, remudar e começar! Sempre que quisermos, que houver necessidade, que queiramos, poderemos. É uma gama de opções traçadas, listadas por nós mesmos a serem executadas. É um mar, um oceano de possibildades cuja profundidade mede-se em anos.

É curta e longa.
Dependendo, é claro, do seu proveito.

Minhas teorias - 01


Coisas Simples

A música muda, eu mudo com ela. Elaé alegre, na maioria das vezes, eu fico alegre.
O dia tá legal. O céu tá limpo. O sol irradia-se com toda a sua força e volúpia. Pra quem? Pra nós.
Eu to chegando a minha casa, depois de um dia, po, exaustivom e vejo que o céu tá cheio de estrelas.
É quinta-feira. Eu lembro que amanhã tenho vestibular, mas vou perder um monte de aulas de física E de química. Porra, do que mais eu preciso??

Felicidade é um estado de "por que não?" e não de "por que?", as pessoas deviam aprender isso. Você não precisa de motivos para ser feliz, simplesmente porque você já os possui! Você vive, respira, come, dorme, tem a permissão de viver, de aproveitar esse mundão que está aí fora, esperando pra ser curtido, pra ser sentido, acima de tudo. Não mse deve pensar "por que ser feliz?" e sim, "por que não ser feliz?".É claro que somos humanos e coisas ruins acontecem a todos, mas porra, não se tem que deixar abalar por isso.´

É simples: quanto mais motivos nos dermos para sermos felizes, mais a nossa felicidade será independente do mundo.

Absorção


As nuvens, quando espalhadas, preenchendo o céu, lembram-me muito de mim mesmo. Sei lá, tudo em mim, dentro de mim, sobre mim. São as várias coisas que rondam a minha mente sem parar, causando-me tanta dúvida, tanta desordem, tanta... Eu não sei... É uma sensação completamente estranha. Que causa-me um - mais estranho ainda! - sorriso. É, um sorriso. É como se todas essas incertezas fundissem-se numa única sensação de alegria, ou de gratidão, sei lá, por estar vivo. Eu sei que para uns, isso certamente representa uma visão (ultra)romântica da vida, mas e daí? Eu já disse, sou um romântico bobão. O curioso é essa coisa de como tudo, o ambiente, as pessoas, as nuvens no céu, a música aos meus ouvidos, exercem tanta influência sobre mim. Talvez eu seja uma daquelas pessoas que absorvem tudo das outras. Talvez eu seja uma daquelas que param na chuva, deixando-se encharcar apenas para aprender a sentir tudo como é. Talvez eu simplesmente seja. E só. Porque eu não preciso de mais nada para ser, eu posso simplesmente ser, e é isso aí. Assim, simples como um ponto final.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Catalepsia - 03

Eu pensei em falar da minha morte, da maneira como se acabou a minha não-vida. Será que foi planejado? Será que alguém controla isso, alguém tem esse poder? Isso seria muito injusto! Por que alguém poderia escolher a hora da minha morte? Sem me consultar, sem saber de nada...? Sem saber se no dia seguinte, eu teria o melhor dia da minha vida? Ou conheceria uma mulher incrível? Porque isso é - em tese - a morte. E a morte não espera - por mais que alguns romancistas digam o contrário. Não espera ninguém. Ela simplesmente apaga as luzes, põe o sol e lhe dá uma lua de consolação, para que você saiba que o fim está próximo.

Será que eu to no limbo? Esse local de eterna transição, para onde vão as almas perdidas? Sem ida, nem vinda, sem nada? Se depender da minha alma, é bem capaz mesmo. Ou será que não? Quer dizer, seria melhor que a morte, o limbo? Ou seria já dentro da morte? Parte dela? Será que a minha alma tá sendo disputada, entre o limbo e o inferno? É, o céu já ta fora, com certeza... E eu to numa espécie de sala da espera, sem cadeiras, revistas ou música ambiente?

Ou talvez não. Talvez eu esteja dormindo, talvez eu esteja bêbado, talvez eu nem esteja. Talvez eu esteja é cansado de estar, ficar, permanecer, ou qualquer outro verbo de ligação que me leva a algum estado... Talvez eu não queira mais. Talvez mais nada. Nossa, eu odeio essa palavra, talvez. Me lembra dúvida, sabe? Quer dizer, é uma dúvida. Um talvez. Aff...

Como será que foi o meu enterro? Onde foi? Eu quera tanto saber... Será que foi no Jardim da Saudade? Ai, eu adoro o Jardim da Saudade! Se bem que no meu caso, com certeza, não teria saudade, nenhuma, mas eu sempre quis ser enterrado lá! De camisa branca, calça jeans, e All Star azul. Mas é claro que ninguém devia saber disso, né? Quer dizer, pra quem eu ia contar? Devo ter sido enterrado num desses ternos estranhos, com uma flor amarela. Isso se eu tiver sido mesmo enterrado... Sei lá, né, com tantas valas por aí, parques, bosques... Nunca se sabe, né? Tipo... Você acha mesmo que as pessoas são enterradas em Veneza, com um canal daquele tamanho, daquela profundidade?

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Gaveta

E eu sinto tudo mais uma vez.
E eu mexo, remexo nessas lembranças, e tudo vem à tona. Já se passaram quantos? Seis meses? Meio ano? E a persistência diante da resistência. O correto perante o errante. Um mausoléu de lágrimas secas abre-se diante de meus olhos, tentando arrancar deles munição, e quase conseguindo, admito.
A música veio como encomenda. Certeira como o tiro que acertou-me, como um baque, uma porrada. Entranhando-se pelos meus poros até alcançar-me a alma, a densidade do meu emocional, a fronteira entre dor e amor. E tudo isso veio novamente. Abrindo-me a ferida, mergulhando-me em dúvidas passadas.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Ele explodiu, moço

Ele explodiu, moço. É, foi sim, eu juro! Acredita em mim... Fedegunda! Da peça! É, foi como o dela... Explodiu de tanto amar. Se bem que eu não amo tanto quanto ela, mas eu nunca vi coração explodir de outra coisa! Ele cresce, se alimenta, engrandece cada vez mais, até não caber mais aqui, no peito. Na verdade, ele ultrapassa o limite do centro e passa a ocupar até o lado direito! É sim...! O senhor nunca viu? Mas não foi assim com a Fedegunda, aquela menina. Ela simplesmente perdeu. Isso, sumiu. Ele foi se esconder dentro de um outro coração, de um outro moço - na verdade, os desejos da própria Fedegunda! É, não é fácil de entender não. Mas desde quando os sentimentos são fáceis? Desde nunca, né!
Então, moço, no meu caso, foi explosão mesmo. Mas não acho que foi por engrandecimento. Acho que foi por agitação mesmo, sabe? E a minha cabeça ajudou, com certeza. Ela foi a grande vilã desse lance todo que envolve o meu coração! Ele é tão inocente, é até grandinho, mas é tão inocente que se deixou levar pela cabeça, essa cobra. E o mais estranho é que o meu é um coração experiente, ele ama bastante, com bastante frequência, apesar de não estar amanda ninguém agora. Isso que é mais difícil de acreditar: um coração tão experiente cair nas garras gélidas da cabeça... A Fedegunda teve a ajuda do Tempo. Ela teve catorze dias, duas horas e um minuto primeiro pra costurar o coração dela. Mas e eu, moço? O senhor pode me ajudar? O que eu faço agora que ele explodiu? Espero se reagrupar? Vou juntando os pedaços, ou mando a cabeça começar o trabalho? Como eu não mando na cabeça, e são muitos pedaços pra juntar, acho melhor eu simplesmente esperar. Até porque, uma hora ele vai ter que bater forte, né? E quando cada pedacinho começar a bater, eu aproveito e os junto todos, assim como a Fedegunda!

É, moço, no meu caso, eu acho que pensei demais, sabe? E o pobrezinho não aguentou...

Catalepsia - 02

Enfim, nessa noite sem estrelas que habito, nesse entremorte - ou talvez-morte - em que se tornou a minha não-vida, nada posso fazer por nada. E acrescento que, se isso é a morte, ela não traz respostas a ninguém, apenas mais dúvidas. Sim, todos mentiram para nós, e, se isso é vida após a morte, eu prefiro a minha não-vida de antes. Estranho... Eu nunca pensei preferir aquilo a qualquer outra coisa. Novas circunstâncias, novas preferências. Mas acho que não prefiro não... Dá no mesmo.

Mas por que, então, chamam a morte de descanso eterno? Até agora, não descansei nada! Só descambei a falar (é estranho falar "falar", já que a minha boca não se mexe ou emite sons) como um louco, e nenhum descanso. Se bem que nem tentei... E acho que nem quero.

Estranho mesmo como até agora eu não lembrei de nenhum fato, ou pessoa da minha vida... Agora que eu penso, eu percebo. Será que isso é triste? Eu sei lá, não controlo a minha memória... E quem na minha não-vida foi tão importante assim para ser lembrado agora? Acho que ninguém. Ninguém do qual eu queira falar. Houve pessoas, sim. Houve feridas, que aparentemente nem a - por que não? - morte pôde curar. Então estou bem - ? - assim. Sem ninguém, como sempre, mas sem necessidade de ninguém, como nunca.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Alegria, alegria!

"Caminhando conta o vento
Sem lenço, sem documento
No sol de quase dezembro...
Eu vou..."

Sim, eu sigo. Caminhando contra tornados, tufões e o que houver. Sem lenço, sem isso ou aquilo, apenas comigo, ou consigo, se preferir - já que, a fundo, não sei com quem caminho... A chuva, espantei. Foi, hoje à tarde. Num repente, ela se mandou... Eu a mandei se mandar. E foi assim que o sol ressurgiu pra mim. Num misto de turbilhão e vertigem, de incerteza e indecisão, de pesar e levitar, ele reluziu sobre mim, meus pensamentos e sentimentos confusos.

Não há escuridão que a luz de uma vela não dissipe, assim como não há tristeza que o fulgor de uma paixão não afaste.

Agora a alegria reina.
Alegria, alegria!

domingo, 11 de outubro de 2009

Mergulho

Ele fechou os olhos.
Apenas escutava.
Transportava-se dali. Fugia da névoa que o rodeava, o envolvia interna e externamente. A música aos seus ouvidos convidava-lhe, sedutora, a embarcar na sua doce e sublime melodia, para juntos, fundirem-se numa única onda, tridimensional, a levitar pelo fino ar em que estavam, realizando curvas, elipses, zeugmas, assíndetos...

Ele abriu os olhos.
Viu seu mundo em trezentos e sessenta graus.
Girava em torno de seu próprio eixo perdido ao vento. Seus olhos encharcados perdiam-se em suas desórbitas, já desorbitadas pelo leve movimento circular que realizava com destreza e rapidez, quebrando, furando, deslizando pelo céu como uma agulha cortante que dilacerava as nuvens, os sonhos e as desesperanças...

Ele abriu o corpo.
Sentiu o mar nebuloso filtrá-lo por completo.
Mergulhava na neblina de seus anseios e aspirações. Seu antes-peito abrira-se ao tudo, ao mundo, ao outro e à si, conferindo-lhe universalidade, um sonho antes distante, agora palável, possível do toque ou não, mas sim, da sensação maravilhosa do sentir universal, da sensibilidade eterna, do sabor da alegria.

Sorriso Bobbo

Hoje foi um sorriso bobo.
O tempo todo. Aquela mistura de bobeira e garotice estava estampada na minha cara. Em quase todos os momentos, relembrava.
O porquê, desconheço. Nem imagino. Fico buscando soluções, causas, consequências na minha mente, mas elas simplesmente não existem... Fico rindo, pensando, ansiando e rio novamente, perante tudo o que me transpassa. Afinal, é uma ironia tão grande algumas coisas... Uma pena, outras não serem. Se a vida toda fosse irônica, a verdade seria linda.

Minguante

Iluminado pela luz do computador, percebo o meu semirreflexo na janela. Nesse momento, o que vejo é um mosaico. São várias formas, vários pedaços de coisas que pairam diante de mim querendo expor-me significados. A lua encara-me em seu quarto minguante. E eu, minguando no meu quarto, refletindo, pensando, me cansando. Eu acho que to começando a cansar disso. Ou não. Eu quero, mas não quero. Eu quero, mas quero ser querido. Essa é toda a diferença!

sábado, 10 de outubro de 2009

Armadura

Nós somos tão vastos dentro de nós mesmos. Eu sinto como se fosse uma nova parte de mim. Corajosa e medrosa. Impetuosa e receosa. Sem pudor e envergonhada. Ao mesmo tempo que teme... Sei lá, teme alguma coisa, não tem medo de assumir-se humano, com erros, desejos e tudo, tudo que o humanismo (?) pode oferecer. Quero gritar, sorrir, chorar - de paz, de medo, de tudo - quero entender. Acima de tudo, quero entender por que saem lágrimas dos meus olhos enquanto ouço Portishead e teclo meus sentimentos. Eu queria, acima de tudo, compreender... Compreender o que sinto, o mundo, as coisas. Compreender o meu medo de lutar, se é que deve haver luta.
Enquanto a música recomeça, eu retiro a armadura, as falsas ilusões. Cada peça dessa armadura, essa carapaça que eu não sei de onde surgiu é deixada de lado. Retirada à medida que a lágrima rola pela amargurada face. E ei-me aqui: com medo, receio, temor. Ao mesmo tempo, tento preencher-me com alegria, com uma sensação de humanidade, um desejo de parecer completo, feliz. O resultado... Bem, quando eu saber, aviso.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Reboot

écomoseeuestivessenumcovil!
c e r c a d o d e t u d o o q u e a b o m i n o !
cercado das risadas, das atitudes, da falta de princípios e muitas coisas mais...!
eissomedesespera,mesufoca!
eu quero ser l i v r e , eu quero ser p l e n o ! eu quero aproveitar o que há de melhor em mim e no mundo com quem me faça bem.
eu preciso desenvolver uma carapaça ,
uma resistência contra desilusões, decepções,
contraomundoláfora...
e u n ã o p o s s o m a i s . . . !
chega... por favor, chega... é o auge, o limite.
são as pequenas coisas,
fragmentos de outras
coisas que f o r m a m esse a b o m i n á v e l m o s a i c o e me faz muito, muito mal.
me faz MAL e me faz querer fazer mal.
sim, eu sou humano, eu posso perfeitamente querer fazer mal - desde que não o faça.

Catalepsia - 01

O dia não amanheceu pra mim. Não se iniciou. Apenas terminou, escureceu, desbotou. Uma vez para nunca mais. Mas nunca mais? Nunca mais como, se ainda sinto a vida a percorrer-me o corpo? Se for a vida que, de fato, me percorre... Mas fato é: eu a percorri, a vida. Percorri tão fugaz, tão medroso, tão rapidamente. Mas não me arrependo, somente porque estou gostando desse meu estado Brás Cubas em que estou, esse entremorte, se assim pode-se dizer.

Foi tão de repente. Até sem graça. De tão percorrida a vida, a morte seguiu a sua velocidade. Deu-se abrupta, súbita, sem direito a despedidas. Não que eu queira me despedir de alguém... Eu não possuía muitos a me sentir... Mas também não me arrependo. Se dizem que da vida não levamos nada, acrescento: não levamos nada, nem ninguém - a não ser em circunstâncias bem específicas, como uma chacina, ou segurar alguém ao cair no abismo (ok, é brincadeira). Pode parecer meio individualista, eu sei, mas sou assim. As companhias de nada adiantavam-me a não ser para o tédio - para causar-me o tédio - ou bloquear-me as ideias. Ah, sim, eu escrevo. Sou escritor. Ou tento ser. Se arte é subjetiva, para mim, chega a ser abstrata.

Mas, retornando à essência do meu relato, o sol apenas se pos para mim naquele dia. Por uma questão de justiça, admito: a lua, para mim, nasceu, mas - assim como as pessoas - não adiantou-me em nada. Se ainda fosse o sol...! Presenteando-me com mais um dia, um nascente, uma manhã de nuances âmbar por detrás das nuvens. Mas não. Tive o desprazer de um luar e um poente. Na verdade, nunca gostei de poentes. A ideia de esmorecência da vida me desagrada, apesar da minha vida ser uma... Não-vida.

É isso aí. Eu não vivi, eu não-vivi, isso sim. E chega a ser triste só perceber a não-vida na morte (ou seria talvez-morte?), sem possibilidade de recuperação ou mudança. Não que eu acredite, de fato, na minha própria mudança. Isso seria quase utópico. Acredito na mudança sim, na redescoberta, mas apenas não tenho a força para isso. Não que agora faça diferença... Pó não faz mudanças. Cinzas não mudam. E por mais poético que possa parecer, eu não sou uma fênix, então nada renascerá das cinzas, já espalhadas pelo vento. E, pensando bem, eu sou cinzas? O que aconteceu ao meu corpo? Eu que não o sinto, vejo ou percebo, não sei. Virou nitrato? Comida? Adubo? Eu acho que não faz diferença - aliás, o que faz?

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Flash

E num minuto não é mais.
O que era...
Não.
Já foi.
O que já foi?
Agora, já fora.
Agora?
Não, naquela hora...
Em qual?
Já era...

É, humano!

Hoje eu andei como nunca antes. Sentia os pés no chão, o vento contra o rosto. Ouvia as pessoas a falar, pensava junto com elas os seus relatos e causos. Hoje eu senti o dia, não apenas o vivi. Senti cada ocorrência, passo, movimento, tudo.
Foi quase uma liberdade ao contrário. Uma liberdade interna, de mim pra mim, que se expande por cada centímetro do meu próprio corpo... Eu me senti livre para pensar, sonhar, errar - eu to louco pra errar! - e fazer tudo, qualquer coisa mesmo!
Sabe... Hoje eu descobri que sou humano. É, humano! E foi tão simples e, ao mesmo tempo, fascinante perceber todos os erros que eu estou sujeito a cometer. Porque isso é ser humano. É saber que pode-se cometer erros e - por que não? - gostar de ter tal escolha, tal sujeição, tal possibilidade. Sem, obviamente, arrepender-se.

Transparência.

Eu não consigo.
Me desculpe, mesmo, mas eu não consigo ser fosco. Fumê, nublado, essa porra toda, não. Não dá mais pra mim. É quase uma necessidade, sabe? Um desejo anormal, louco, voraz! Eu preciso gritar ao mundo, me mostrar ao mundo, deixar que o próprio mundo me mostre o certo... Mas que certo? Ainda há o certo?
Enfim, eu preciso ser transparente, translúcido, límpido, comigo mesmo. É quase uma questão de consciência, de compensação, de desejo de mudança nessa sociedade conturbada. Adeus à lógica da mentira, da inverdade. Adeus. É hora de mudança, de melhoria, de coragem.