domingo, 11 de outubro de 2009

Mergulho

Ele fechou os olhos.
Apenas escutava.
Transportava-se dali. Fugia da névoa que o rodeava, o envolvia interna e externamente. A música aos seus ouvidos convidava-lhe, sedutora, a embarcar na sua doce e sublime melodia, para juntos, fundirem-se numa única onda, tridimensional, a levitar pelo fino ar em que estavam, realizando curvas, elipses, zeugmas, assíndetos...

Ele abriu os olhos.
Viu seu mundo em trezentos e sessenta graus.
Girava em torno de seu próprio eixo perdido ao vento. Seus olhos encharcados perdiam-se em suas desórbitas, já desorbitadas pelo leve movimento circular que realizava com destreza e rapidez, quebrando, furando, deslizando pelo céu como uma agulha cortante que dilacerava as nuvens, os sonhos e as desesperanças...

Ele abriu o corpo.
Sentiu o mar nebuloso filtrá-lo por completo.
Mergulhava na neblina de seus anseios e aspirações. Seu antes-peito abrira-se ao tudo, ao mundo, ao outro e à si, conferindo-lhe universalidade, um sonho antes distante, agora palável, possível do toque ou não, mas sim, da sensação maravilhosa do sentir universal, da sensibilidade eterna, do sabor da alegria.

Nenhum comentário:

Postar um comentário